Acontece com todas as pessoas “famosas” relacionadas a educação, estando em eventos, entrevista a programas de TV, Rádio ou internet, quando aberto espaço para perguntas, vai ter uma igual ou parecida a: “o que está sendo feito para resolver essa juventude de hoje, essa geração que só quer saber de celular, eu tenho preocupação com isso, para onde vai essa geração?”. Posso supor que a pergunta seja indigesta a educadores e “prato cheio” para psicólogos, mostrando a oportunidade de ter muitos pacientes em tratamento. (a frase anterior contém ironia).
Façamos um breve exercício de percepção, simplesmente avaliando se existe o “tiozão do zap” ou “molequinho do zap”, também se os mais chatos em redes sociais são os sub 20 anos ou os 40+. Neste ponto entra a percepção necessária para começar a deixar de tolices, é óbvio que o interesse no que está em formato eletrônico ou digital, não é coisa só “dessa nova geração”. Nitidamente quem está falando em preocupação, também está consumindo e vive sob a mesma influência de quem supostamente é da geração que está perdida.
Tenho aquele sorriso de canto por saber que a pessoa perguntando ao “famoso” sobre como resolver a nova geração, está acessando a ele do mesmo jeito que a molecada. Peço que me perdoem os especialistas no assunto, caso eu esteja equivocado, mas, neste momento, o cenário mostra todas as gerações dependentes ou quase dependentes das mesmas coisas, vivendo das mesmas tolices. Pegando apenas a “preocupação” dos mais antigos com “essa nova geração aí”, sendo a dor o uso do celular, uma prova do que afirmo são pessoas dirigindo e olhando mensagens ao mesmo tempo, não importa a idade, neste momento tem alguém fazendo. Pessoas com única atenção ao celular em locais públicos é outro exemplo, de bebês a avós, não precisa muito esforço para encontrar. Só muda o assunto que captou a mente da pessoa e a velocidade para trocar por outro assunto, no mesmo aparelho.
A tolice que apresento neste texto é focar na consequência sem sequer perceber a causa que está tão perto quanto aparente. Geração 0 ou 1, não tem mais uma faixa de idade definida, simplesmente são todas as gerações. Aquela pessoa perguntando ao famoso sobre como resolver a nova geração, não percebeu que a dela também está agindo igual, sob influência de uma imitação do cérebro ao padrão digital, o processamento de informações em linguagem de máquina. Ao escolher apontar o dedo aos mais jovens, a pessoa mais velha acionou um algoritmo no padrão de máquina e abandonou o que permitiu aos seres humanos a mente privilegiada entre as espécies, capaz de processar informações com sensibilidade e estímulos que jamais um computador terá. Nossa mente (por enquanto) difere de um computador por ser simplesmente analógica. E isso (cérebro humano é analógico) não sou eu afirmando, é um dos cientistas mais importantes do mundo atualmente, brasileiro e quase desconhecido por aqui*. A preocupação com “essa nova geração aí”, não deveria ficar somente no estereótipo, no incômodo gerado com o que eles estão fazendo, isso é raso demais, limitado ao “0 ou 1”. Esta dispensa da nossa sensibilidade, muda a forma como todas as gerações estão pensando, podendo nos levar a induzir o cérebro a copiar estas máquinas maravilhosas que nos atraem o tempo todo. Nosso cérebro pode vir a se adaptar com o formato digital das máquinas e nos levar a agir como elas (também com base nas palavras do neurocientista).
Nosso desafio é deixar de acreditar que um equipamento qualquer ou um software esteja estragando a humanidade. Isso é uma grande tolice! Ao mesmo tempo, estamos em um cenário real, desafiados a viver em harmonia com as máquinas que trouxeram coisas muito atrativas, viciantes. Podemos sim superar esta fase, com a mais doída e doida das antitolices: a simplificação. Certamente quem está sendo entrevistado nas rádios, tvs, podcasts e tal, não terá poder de resposta maior que o bom e velho equilíbrio. Simples, próximo, disponível e poderoso, o tal equilíbrio.
* Esta referência que fiz foi ao Neurocientista Miguel Nicolelis.
