Multi-harmonia.

          É uma viagem sem tamanho, coisa de quem não tem o que fazer ou está com tempo sobrando, uma piada ou bobagem qualquer. Tudo bem, tudo certo. Mesmo assim, tenho a impressão de que vai ficar uma pontinha de dúvida no teu pensamento, voltando em tua voz interna de tempos em tempos. Há uma simples razão para isso, hoje o que é visto como besteira, logo mais pode naturalmente acontecer. Essa dúvida vai ter resposta, por ter sentido, não é uma tolice.

          O simples aumento do número de pessoas que, mesmo não externando, reconhecem o quanto são tolas e desumanas, todas as tentativas de validar a disputa por hegemonia, é o que faz com que a ideia de harmonizar, deixe de ser viagem e se torne normal, sem necessidade de registro formal sobre quando e quem começou a praticar. É mais fácil perceber o quanto é uma tolice disputar, impor, guerrear para ter poder sobre quem “perde”. Estes conflitos todos que assistimos, muitas vezes de forma passiva, quase hipnotizados com a forma que são encenados, transmitidos e divulgados, ainda são dominantes e por razões diversas, mudam de lugar e comando, com falsa tendência de perpetuação. Em outras palavras, a história se repete, muda o palco, os atores, a luz ou o idioma, sem mudar a peça teatral, sem que o texto e a mensagem original deixem de existir. É de se notar algumas alterações na essência da coisa, por exemplo, quando uma guerra tem na verdade, somente fins lucrativos de quem está investindo e financiando, sem que o conflito criado seja real. Ela terá o mesmo formato na justificativa que todas as outras tiveram, o mesmo modo de conquistar apoio, pessoas torcendo para um ou para outro lado. Terá o mesmo cenário encantador de idiotas que se apaixonam pelas tolices que dão a armas um encanto inexplicável, terá os mesmos fetiches, milhares de trouxas falando sobre o que está acontecendo, sobre quem tem razão, repetindo as mentiras, a fabulosa bestialidade. Mas, com a distância de tempo, mesmo que imprevisível, pessoas com dois neurônios ativos e que se comunicam, vão perceber que tudo foi planejado e executado de forma calculada para alguém ter nada mais do que lucro.

          Tolice é esquecer o quanto a harmonia é melhor que o conflito. Temos que considerar que a teimosia faz parte da natureza de algumas pessoas e que é uma relevante fonte de energia para iniciar e alimentar disputas sem sentido. Sabemos que é uma tolice também, fingir não perceber, evitar de falar, mas, perceber nitidamente quando uma pessoa é teimosa, insiste em algo que que já foi e está superado. A pontinha de dúvida não é sobre a autoavaliação do grau de teimosia, é a percepção de que viver em busca de poder, de dominar alguma coisa, está ficando para traz, está perdendo o fanático e funcional público, está conquistando menos fiéis seguidores e não encontra com facilidade o campo fértil para sustentar a longevidade desta falta de inteligência coletiva.

          Harmonizar a nossa relação (humanos) com o mundo, já é uma realidade. E o mais interessante é que não precisa criar ou promover nenhuma guerra, nem mesmo conflito ou disputa para colocar em prática. Não precisa sequer de uma liderança, não tem necessidade de formalizar nada. O mundo multi-harmonizado é muito mais interessante e tem o detalhe de atrair adeptos em todas as idades, todos os idiomas e locais existentes. Outra vantagem é a desnecessária vocalização, basta agir e está realizado. Há um incômodo em quem não percebeu ainda, mas, está completamente imerso no mundo polarizado, na vida multi conflituosa e com múltiplas guerras formais e informais. Esse incômodo é a inexistência do rótulo, dificultando a briga, fazendo com que a raiva sequer possa ser semeada. Incomoda por anular silenciosamente quem queira provocar um conflito ou insista em não resolver as divergências. Essa forma de mundo multi-harmonizado, se realiza em assuntos simples do dia a dia e nas relações ditas mais complexas. Desde a tosquice dos escapamentos esportivos em veículos circulando em área urbana, passando pela escolha entre alimentos industrializados ou naturais, até a complexa relação entre quem por força da natureza, não pode mais ficar morando onde estava e precisa de um novo espaço para simplesmente viver. A harmonização destes falsos conflitos, começa a ser mais atrativa. A tolice do veículo é sobreposta pela harmonia da simples percepção que há uma relação entre o ambiente e quem está ou passa por ele. A escolha entre industrializado ou natural, vai além do gosto e formato do alimento, sendo resolvida pela inteligência. A tolice de não acolher quem precisa de novo local para viver, é anulada pela adesão ao modo empático de ver que somos igualmente frágeis e não dominamos todas as variáveis da vida, entendendo a diferença de invasores para desesperados. Harmonizar não é sinal de fraqueza, de vida insonsa ou qualquer adjetivação de significado diminutivo. Muito ao contrário, o que traz atratividade a esta forma de viver, é a inteligência envolvida. É sinal de muita força, isso encanta, conquista.

          Por um tempo, ainda teremos que escolher entre falar que acreditamos e por sobrevivência financeira, fingir que somos contra isso, que achamos uma grande besteira. Para garantir emprego, renda, ainda precisamos zombar do mundo multi-harmonizado, precisamos fingir que somos a favor de algumas guerras, que concordamos com o domínio de uma ou outra idiotice, fingir que fazemos parte de uma classe ou que desejamos muito alcançar os requisitos para pertencer ao topo, ao domínio. Ainda vamos ter que fingir que acreditamos nas tolices de quem conquista pessoas e suas almas, vendendo uma mentira descarada, mas, muito encantadora. A resposta é sim para a tua possível crença de que sempre vai ter um trouxa caindo na lábia da malandragem, em alusão a repetição da história que registramos até agora. Mas, entenda que é um dogma, este teu pensamento já está sendo anulado pela prática da inevitável multi-harmonização. Não há um conflito de interesses nos pensamentos que rondam a nossa mente e nossos atos, quando percebemos que não é uma questão de escolha, é instinto de sobrevivência.

          Viagem, besteira, fantasia, bobagem. Tudo bem, mas, está acontecendo, independente da tua opinião, do teu pensamento por base própria ou induzida por quem te dominou. Não é necessário o teu apoio, o teu acreditar. Será realidade, é inevitável!