Quando entendemos que as respostas não são definitivas e que um pequeníssimo detalhe, pode mudar o que antes absorvemos como verdadeiro, conseguimos algo que não temos como precificar, que é colocar em prática a cautela, antes de acreditar em tudo que aparece como nova verdade. Isso não é igual a atingir a maturidade, porque ainda seremos incapazes de aceitar que para cada resposta, teremos incontáveis novas perguntas. Começamos a amadurecer, quando damos mais tempo para a busca das respostas a estas perguntas e agindo com atenção, sabendo que poderá surgir mais perguntas. Responder e agir rapidamente, apenas repetir frases tolas, seguidas de algum gesto em busca de simpatia, como um sorriso ou o aumento do tom de voz, desejando impor respeito, é sinal de muita fragilidade. Começamos a nos fortalecer, quando dosamos o tempo para perceber as novas perguntas e a cautela nas respostas. Apenas começamos. Este ciclo, hoje não cabe na agenda, no tempo disponível ou no jeito de viver a vida. Nem mesmo para ler e entender este parágrafo, quanto mais para dedicar-se a melhor entender, antes de falar ou fazer tolices. O valor da cautela é percebido quando conseguimos superar o nível jardim de infância. Hoje não há tempo para isso, não tem atratividade e chega a dar sono, preguiça.
Aqui o jardim de infância, não é referência somente ao local físico e nome de uma fase, em nosso tosco atual formato de educação. Seria injusto com quem não teve acesso. A falta de tempo, de espaço na agenda, também não é uma metáfora. Na prática, é uma questão de nivelamento. Um – e não apenas o único – efeito da falta de tempo para ter cautela, é a repetição da fase infantil, simplesmente porque nela rimos mais, brincamos mais, nos lambuzamos em cores e texturas sem repressão, somos alvos de afagos o tempo todo, gritamos e somos alimentados sem se preocupar com nada, a vida neste modo é resumida em seguir o fluxo. Não há quem possa achar isso ruim. Há sim, quem de nós somente não percebeu que está praticando o nível inicial, infantilóide, sem aceitar a verdade e sem disfarçar o prazer que está sentindo sendo assim. Gestos, vestes, rotina, postura, renda, aparência de maturidade. Quando em testes reais, sérios, é nível jardim de infância.
Neste nível, quanto mais rápida a resposta, antes virá a gargalhada ou o afago. Não precisa saber história para contar como foi o dia, quais brincadeiras mais gostou de participar e pequenas fofoquinhas. Algumas perguntas podem ser respondidas somente com sim ou não. Talvez gritando siiiiiimmm ou nããããããooooo! Tem coisa melhor? Aqui chegamos a um ponto complicado, a atração gerada para respostas nível jardim de infância, por pessoas que estão com recursos e espaço para com sua infantilidade, convencer outras pessoas a agir ou em casos extremos, a como responder quando a dúvida for semelhante. Tagarelas onipresentes, capazes de muito barulho, criando verdades sem sentido algum, apenas com a graça do falar errado e responder rápido. Cabe um sinal de maturidade, percebendo uma verdade na observação de que quanto mais barulho, mais pobre (contém ironia). E quando a composição do que estão falando, é feita do mesmo jeito que surgiam as brincadeiras do jardim de infância, onde basta pegar qualquer coisa, misturar com coisa qualquer, bagunçar tudo e no final vira algo legal, incrível. Não precisa ter coerência, não precisa ter base, não é necessário que as coisas sejam compatíveis e sequer precisa colocar todas as letras nas palavras. Basta estar no lugar que foi levado para passar o dia, pular, gritar ou gargalhar e a tia traz o lanchinho, com musiquinha alegre. Os amiguinhos e amiguinhas vão acompanhar. Depois tem o soninho e mais brincadeiras legais.
De professores a parlamentares, de gestores a jornalistas, passando por operários a comerciantes, chegado ao que move a sociedade, o nosso conjunto de pessoas compartilhando espaços e recursos. Quantas destas pessoas estão com tempo na agenda para pensar antes de agir ou falar? A resposta a esta pergunta, existe. Tolice é não ter cautela e responder de imediato, sem antes fazer as outras perguntas. Tolice é não entender que um pequeno detalhe pode mudar a resposta que antes foi verdadeira. O detalhe em muitos casos, tenha cautela ao responder, é em qual nível está o teu tempo e se na tua agenda, cabe um espaço para entender o que está sendo feito da tua vida. Será uma repetição a nível jardim de infância? Além de ser sinal de pobreza, muito barulho também anula a voz interna, que faz parte da nossa consciência e se esta for sobreposta pelo ruído de um jardim de infância, está formada a tolice. Tagarelas somente brincando, passando o tempo e sendo felizes. Tem coisa melhor que isso?