Repetição Parental

Pode existir tolice subconsciente? Aquela que surge sem explicação e deixa as pessoas perturbadas e perguntando: por que eu fiz isso?  Muito distante de ter base científica, vou usar um termo somente para facilitar o entendimento: repetição parental. Pode ser isso.

Observando algumas ações e falas de pessoas famosas e algumas totalmente desconhecidas, surge uma percepção interessante do contraste entre o que seria mais lógico e as tolices de envergonhar alheios. A pessoa vai tão bem, tem fluência verbal, as vezes é até cativante, com ironia e seriedade que parecem bem dosadas, até que se ouve algo inexplicável. Com o perdão da gíria, surge uma verdadeira “m3rd4”.

Estou tentando trazer uma percepção de tolice que precisa ser primeiro entendida e depois combatida. Por exemplo, qual a justificativa para uma pessoa que frequentou a educação básica e em 2023 usa no seu cotidiano o verbo “ponhar”? Eu “ponho” esta tolice no grupo repetição parental. Este exemplo é uma tolice comum na população inteira de uma cidade que conheço, pode ser inacreditável ou muito distante da realidade dos leitores deste texto, mas, é fato e acontece sim, bem perto de uma metrópole. Claro, é uma questão pouco relevante, sendo utilizada só para ilustrar e para não citar diretamente situações com temas polêmicos e pessoas muito conhecidas.

Agora vamos entender com calma. O “ponhar” ainda existe, por repetição parental. Está na linguagem do meio social de origem da pessoa que fala assim. Considere parental o convívio com pai, mãe, tios e tias, avós, primos e primas, e todos os agregados possíveis de uma família. E quando não existe a família original, considere parental a relação com os mais próximos. A partir do costume e das lembranças, mesmo após estudar um pouco, a pessoa usa o verbo “ponhar”, pelo conforto de lembrar ou estar na presença de quem sempre falou assim. Por mais que saiba que não é correto, repete. E aqui entra o que deve ser combatido: a repetição do erro por imitar comportamento antigo, mesmo que via subconsciente. É uma tolice que contradiz a evolução humana. Podemos, devemos e queremos respeitar as origens e conviver com pessoas formadas em outra época, carregadas de costumes do passado recente. Isso é bem diferente de repetir, copiar, perpetuar o que já foi superado e é incompatível com o contemporâneo.

Ainda assim está difícil de entender? Imagine uma pessoa que fuma qualquer coisa, de ervas a vapores. Com o que já sabemos que isso gera no organismo, somando ao que já entendemos que nos prejudica e nos coloca em risco, somente a repetição parental explica a tolice que leva uma pessoa a fumar. É equivalente aos atos de atirar (esportiva ou criminalmente), buzinar no trânsito quando alguém quer virar uma esquina, ofender um garçom, falar exageradamente alto, repetir ditados populares horríveis, fazer piada com o pavê, brigar (na porrada) por bobagens, defender políticos, chamar dono de empresa de doutor, furar frutas com a unha para ver se estão maduras, usar palito de dente, etc, etc, etc. Tudo repetição parental.

Será muito melhor o tempo em que a tolice da repetição parental seja abandonada. Vamos sim aprender com os antigos, mas, não repetir seus gestos e costumes, sem antes lembrar que o ser humano está evoluindo, o tempo passando faz o contexto social mudar e a repetição parental não é mais apropriada. E não sejamos praticantes da tolice achando este assunto irrelevante. Ao teu redor, desde a pessoa mais próxima, passando pelos que compartilham espaços contigo, chegando as personalidades que somos “obrigados” a ver pela mídia, não tem como passar despercebida a quantidade de bobagens que acontecem, simplesmente porque alguém está repetindo uma tolice herdada. Algumas destas tolices apenas envergonham, outras podem causar grandes tragédias sociais. Não esqueça de fatos recentes em nosso país socialmente enfermo. Observe mesmo que a uma distância temporal curta, como pessoas com muito poder em mãos, evidenciaram o risco das tolices por repetição parental. Inadequadas e perigosas. E não falei de mais duas expressões que em um outro texto vou tratar: distrocar e soar. Elas aparecem de vez em quando nas entrevistas e falas de famosos, sendo amplamente utilizadas por anônimos também.

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