Entrada permitida somente para pessoas autorizadas. Passagem bloqueada, pode ser uma necessidade de segurança, prevenção ou uma metáfora que deixa uma dúvida incômoda: o que está sendo barrado é uma pessoa ou tem mais coisas implícitas? Quando os critérios são superados, quando a pessoa alcança o que era dito como restrição e passando pela barreira inicial, ainda assim não conquista o direito de participação, entra em cena a angústia, por perceber de que tem outras prontas e mais ainda sendo criadas. O resultado disso passa a ser previsível, vai registrando desde a segregação descarada, passando pelo sadismo de ver uma pessoa sendo iludida até chegar ao alvo desta rápida análise, o tempo passa e poderá reverter a condição, criando a quem barrava, uma dependência do que foi barrado, revelando ações desprovidas de inteligência. Barreias de acesso são uma ilusão de consequências bem interessantes.
Observe os relatos de pessoas que pretendem alugar um imóvel e na pesquisa de ofertas, percebem que se fosse possível pagar um pouco a mais, poderiam se aproximar do que realmente é desejado por elas. Nestes casos, a barreira de acesso é criada e manipulada pelo conjunto de proprietários de imóveis, organizados formalmente ou não, até mesmo sem saber que estão agindo em rede, formando mercado, pertencendo a um perfil identificável. A real intenção das barreiras, não é um desafio para superá-las. Projete a sequência, onde a pessoa que fez a pesquisa, motivada com o que viu nas ofertas a um nível acima do que pode pagar, passa a buscar meios de viabilizar o alcance e depois de certo tempo, consegue e vai novamente pesquisar. A surpresa será dura, vai perceber que novamente o melhor está um nível acima ou há novo critério que a excluirá, uma nova barreira. Ao grupo dos proprietários, nada mal, a percepção será de valorização do que é interessante para eles e por um período, será naturalmente mais rentável.
Seguindo no mesmo exemplo, é inevitável que a pessoa que buscou por um tempo superar as barreiras de acesso, perceba que está sendo iludida e encontre uma solução, saindo do ciclo. Neste ponto, azedará o negócio para o grupo dos proprietários, porque se forma uma corrente contrária e quem criava as regras, terá que buscar a pessoa que pesquisava, assim também naturalmente, não estará mais confortável nesse jogo. As barreiras, inclusive as que nem são percebidas como tal por quem as criou, não serão mais alvo para quem tentou superá-las e o cenário passará a ser invertido. Ao invés de barrar, quem estava na soberba, terá que facilitar, com um detalhe: no momento não tem mais quem queira. Isso não é um paradoxo de mercado, é apenas tolice confirmada. A barreira deixa de ser sustento da arrogância para se transformar em algo simplesmente inútil.
A expressão barreiras de acesso pode não ser conhecida amplamente, mesmo assim é comum e muitas vezes é aplicada ou sentida, até por quem não sabe que está diante dela. Quando alguém decide colocar critérios de acesso a algo, seja valor, idioma, tempo, cor da pele, gênero, profissão, possuir algo material ou título, qualquer coisa que saiba não estar ao alcance geral, está na verdade criando as tais barreiras de acesso. O flerte com a arrogância, o prazer em criar, controlar ou desejar que seja algo com o perfil “isso não é para qualquer um”, leva o individual ou coletivo a uma autossabotagem. É uma tolice, uma ilusão. Pode até durar muito tempo, inegável que alguns fatores alimentam este cenário criado e pode acontecer longevidade. A reação a isso é inevitável e o rompimento, a superação, quase natural.
Enquanto funciona uma barreira de acesso, muito do que poderia enriquecer o lado bom do que está sendo feito, acaba desperdiçado. Como em um primeiro contato de um vendedor a uma empresa, que é bloqueado pelo filtro padrão solicitado a pessoa que atendeu, mas, o que seria oferecido, resolveria muitas dores de cabeça. Sequer foi ouvido, sequer chegará à pessoa que está precisando e procurando, será simplesmente desperdiçado. Na mesma lógica, tudo que seja feito com a intenção de formar grupos com ou sem acesso a algo, terá igual desperdício e tende a fracassar.
Fronteiras, muros, divisões, barreiras de acesso, estão se provando não naturais. Quem busca superar as tolices, pode começar em suas micro ou gigantes decisões, a ter consciência se está compartilhando ou criando barreiras burras por vaidade, arrogância e falta de inteligência. O antigo formato de segregação, aquele em que por má influência alguém se autodeclara detentor de algo ou a força toma o domínio e escolhe as regras de acesso, tem a cada instante conhecido derrotas, rejeição e até extinção. Aos que não perceberam, que por formação, influências, limitações cognitivas ou por maldade mesmo, estão sob adestramento da tolice do mal utilizado clichê de “pessoa conservadora”, a natureza tem algo reservado e vai apresentar, mesmo que de forma e tempo imprevisíveis, a liberdade. Essa é uma barreira de saída, sendo superada, transformará tolice em apenas uma referência do que não fazer, um registro para não ser esquecido e sabendo das suas consequências, evitado que se repita.