É, sem saber.

          Após a bagunça no significado real das palavras, na interpretação de fatos e após o uso mais frequente da safadeza, dá habilidade em conquistar a confiança mentindo ou enganando, está mais comum encontrar pessoas que são ou estão praticando algo muito ruim, sem saber o que estão fazendo. A falta do aprendizado formal, no sentido ter contato com as bases do conhecimento e suas relações com a vida “normal”, transformou pessoas de boa alma, em instrumentos e agentes do que é muto ruim, coisas que já sabemos que são destrutivas e prejudiciais a quem faz e a quem recebe o impacto do que foi feito.

          Começando por um tema que se tornou grave e mais evidente nos temos atuais. Sem saber, uma pessoa pode ser racista, por ação automática de repetição, com influência do que tem origem no que pode ser chamado de educação informal, aquela que se aprende por conversas, músicas, piadas, ditados populares e convivência. Este tipo de educação, ocorre em todas as fases da vida, desde a infância ao final. E o nível do que se aprende fora da escola, depende diretamente do grupo social que a pessoa pertence, sendo deste grupo que se define qual o acesso que terá a informações e interpretações.

          Pode não ter maldade proposital no que esta pessoa está falando ou fazendo. Isso considerando que sabemos e conhecemos a realidade em que há uma confusão resultante da desinformação, da troca de significados e da indução ao modo de agir e até de pensar. É importante pontuar que a quem interessa criar o pensamento e comportamento racista em grupos sociais, não há inocência, assim não será percebido usando palavras, imagens, ações, de forma explícita e direta. Também sabemos de longa data que isso é feito com método e muita safadeza. Dois exemplos muito comuns para ajudar no entendimento deste contexto. No primeiro, em conversas informais, aquelas em que se fala da história das famílias, algumas pessoas da região sul do Brasil, descobrem que seus avós eram instruídos a matar os Bugres, caso encontrassem algum. No segundo, um jovem responde a uma provocação sobre ouvir algo em língua chinesa, dizendo que prefere em japonês, porque chinês é ruim. Nos dois exemplos, o racismo é praticado sem que as pessoas envolvidas percebam ou sequer saibam que estão agindo assim. Matar os Bugres era uma regra informal nas colônias, quando se formou a mentalidade de quem era apenas uma criança na época e passou a vida à margem de estudar qualquer coisa que lhe fizesse entender que os Bugres eram os verdadeiros donos das terras e que os colonos foram enganados com o falso direito de posse. Em igual condição, foi enganado o jovem que automaticamente processa a informação impregnada em sua mente, onde tudo que se refere a chinês é ruim, por ser chinês. Este jovem também não teve acesso à educação formal, onde a formação do senso crítico, pudesse indicar que na verdade, está sendo racista.

          Em outros temas, o sentido é o mesmo. Perceba quantas pessoas estão egocêntricas e não sabem. A palavra é complicada falar e tem relacionados a ela o uso conceitos equivocados, apresentados até mesmo em piadas. E assim, crianças, jovens, adultos e idosos, hoje são extremamente egocêntricos e não sabem. Também, não tiveram acesso ao saber, ao conhecimento sobre o que é e as consequências de ser assim. São incontáveis os momentos em que sem fazer esforço, percebo o egocentrismo através da convivência com vizinhos, colegas de trabalho e amizades. Em um pequeno condomínio que morei, um casal muito jovem, era incapaz de fechar a porta do hall de entrada e fechar o portão de veículos, aberto manualmente por eles. E isso era natural, automaticamente agiam assim, em todas as passagens por estas que deveriam ser barreiras de segurança. O egocentrismo os impedia de lembrar que mais pessoas moravam naquele predinho, que o portão e a porta não estavam ali somente para eles. Exatamente em frente a este predinho, um jovem na casa dos trinta anos, sempre que chega com seu carro em frete ao portão da casa, buzina seguidas vezes, até que venha alguém abrir para sua passagem. É um portão baixo, leve e com não mais do que três metros. Seguramente, este jovem não levaria mais que um minuto para descer do carro, abrir o portão, voltar ao carro e passar por ele. Em meu trabalho, convivi com pessoa que sequer respondia a perguntas, quando estava literalmente debruçada sobre o celular (braços sobre a mesa e corpo curvado a frente para aproximar os olhos da tela). Em algum momento, foi absorvido por esta pessoa, que tal comportamento seria uma forma de mostrar que tem forte concentração, que nada lhe tira a atenção por ser muito focada no que está fazendo. Eles não sabem, mas, são apenas egocêntricos e quem sabe o que isso significa, percebe. É importante um detalhe, não estou falando de pessoas e situações ocorridas há séculos, falo de agora mesmo, da era em que tendemos a achar que estas coisas tolas foram superadas e evoluímos.

          Uma pessoa ansiosa, pode estar entendendo que é agilizada, que os outros são lerdos e não acompanham a rapidez do seu raciocínio. Por absorver a confusão dos significados, não percebe que o excesso de açúcar ou estimulantes, na verdade trazem a quem tenha a obrigação de convivência, a fácil percepção do desequilíbrio, da ansiedade. Uma pessoa grosseira, daquelas que antigamente considerávamos xucro ou xucra, sem saber, pode estar se autodeclarando firme o objetiva, sendo que é percebida e facilmente entendia como inadequada. Também está comum, fácil de encontrar em supermercados, shoppings, igrejas e todos os lugares com aglomerações, adultos e idosos com atitudes infantilóides, por não saber que uma propaganda, um hype ou moda, não teria eles como público-alvo.

          Considerando que para pessoas egocêntricas, grosseiras, infantilóides e racistas, podemos oferecer orientação ou desprezo quando se negam a perceber o que estão fazendo, entramos em assunto de maior relevância, pela dificuldade que se tem na superação. A tolice impregnada na firme defesa e participação fiel em conflitos, como disputas pelo poder, guerras, controle de recursos e por dinheiro. Aqui, o método aplicado para conquistar pessoas de limitado conhecimento e alta absorção de enganos, tem alcançado o resultado desejado, trazendo ao mundo tragédias irrecuperáveis. Conhecemos o método, percebemos as aplicações dele, vemos os resultados e simplesmente não sabemos como fazer para evitar que prospere, muito menos para reverter as consequências quando já se concretizou.

          Há um limite para ser, sem saber que é. Mas, não há até o momento, o consenso sobre como evitar que tenhamos que conviver com pessoas fascistas, egocêntricas, covardes, xucras, infantilóides, ignorantes, idiotas e todas as desqualificações que aderem aos enganados. Algumas atitudes simples podem contribuir, mesmo que não sejam no momento percebidas como ferramentas. Por exemplo, não entrar nas armadilhas do desequilíbrio entre a racionalidade e o ímpeto emotivo. Ao perceber que está repetindo algo sem antes refletir se realmente sabe do que se trata, e, quando estiver em dúvida, simplesmente não repetir, não participar. Desconfiar do que parece bom demais, quando é vendido por alguém, seja declaradamente ou patrocinado. Entender que a solução dos nossos problemas, não pode criar um problema para os outros. Pode não resolver, mas, ajuda, funciona como um freio.

          Também há um limite para essa prática maldosa de trocar significados, mudar as verdades e criar falsas dúvidas. Este é mais perigoso, porque leva ao inevitável conflito entre iguais. Sim, tem nome e soa mal, chama-se guerra e chegando a ela, todos vão perder, não há chances de ter vencedores, porque ela tende a nunca terminar. Quem dessa guerra participar, é perdedor e não sabe.

          Ouvi e compartilho uma interpretação interessante dos ensinamentos atribuídos a um ser de incomparável sabedoria, que mesmo tendo a vida abreviada ainda muito jovem, inspirou incontável número de pessoas, algumas inclusive são praticantes desta sabedoria e não sabem. Com o que é atribuído a ele, é possível perceber que o melhor lugar para estar quando ocorre um conflito, é distante dele. Também é de se entender, que não há condenação por escolher um lado, mas, há graves consequências para quem participa e alimenta o conflito.

          Que sejamos atentos, para não dar continuidade em tolices, sem saber que estamos sendo tolos.