Sinceridade deixou de ser virtude há muito tempo. Verdades completas, da mesma forma, agora no máximo são meias verdades. Falar uma coisa, ter um discurso e fazer na prática algo bem diferente do dito, também não é novidade, podendo ter surgido junto a primeira malandragem, a qual não é necessário arriscar uma data inaugural. Assunto chato? Sim, causa desconforto a quem sabe que está nesta turma e não quer nem pensar em sair ou mudar de rumo.
Compare a popularidade das ondas (toscas) de pensamento, seus ditados e frases de adesão quase instantânea e massiva, com os chatos que quebram o clima apontando a falta de coerência, o contraditório e na maioria das vezes, o falso. O segundo grupo é infinitamente menor que o primeiro e este tem pessoas defendendo a baboseira, como se fossem parte dele, sem qualquer laço ou sinal de que efetivamente o sejam. É a famosa compra de uma briga que não é tua. Tolice, que de forma inconsciente, adia e prolonga a necessária fase do desmame do grupo que não tem vergonha alguma de se manter assim, eternamente sugando, mas, com aparência de que conquistaram riquezas pelo próprio esforço. Isso para um pequeno grupo que tem alguma riqueza. Não estão sozinhos, tem um grupo muito numeroso de pessoas que é dependente do estado ou da fonte de renda a partir dele, curiosamente discursando contra esta fonte, com milhões de pessoas ignorantes ou enganadas, os defendendo e reproduzindo uma distorção entre o que é falado e o que é feito.
Tolice igual a uma tia que chama de malvada a mãe de uma criança, que está chorando porque não quer comer outros alimentos, quer continuar mamando. “Coitadinha da criança mãe desnaturada! Dê logo essa teta, a criança precisa ser alimentada”. Pouco importa que a criança coitadinha tenha lá seis ou sete anos, a tia compra a briga como se ela mesma estivesse com fome e viciada no leite materno. Não por acaso, farei uma correlação entre grupos bem safadinhos que prolongam a fase do desmame até a aparente eternidade, com uma citação ao injustamente colocado no grupo dos chatos impopulares, Ladislau Dowbor. Em uma coletânea de frases e pensamentos publicados em forma de livro, ele coloca algo que está ligado ao sentido de desmame neste texto que escrevo agora. “Mas, gostam de ter os filhos estudando de graça na USP, ter ruas asfaltadas, navegando no imposto pago por outros”. Em alusão aos ricos e suas escandalosas controvérsias.
A nós, considerando que estamos em sociedade com pobres e ricos, restou escolher entre comportar-se como a tia que tem dó da criança atrasada na fase do desmame, ou prestar mais atenção aos detalhes, percebendo quando estamos caindo na conversa fiada de gente habilidosa na enganação. Ninguém ensinará aos não ricos, como se usa a enganação no contexto sociedade e não há uma “escola” formal que transfere o conhecimento dos mais antigos aos mais novos, é feito por convivência, uma ação fraternal cotidiana e perene entre esse grupo. Aos que estão fora dele, é mais difícil qualquer que seja a tentativa de ajudar a despertar. Estão encantados pelo outro grupo e só querem uma coisa: alcançá-los e ser aceitos, participar das mesmas coisas, dos mesmos momentos. Enquanto isso não acontece, o grupo encantador, com pouco esforço, convence o outro que o inimigo é o governo, o estado ou a política.
Um registro importante é necessário que seja feito. Nos dias atuais, não há mais o que possa justificar a aceitação passiva da distorção de fatos, qualquer que seja o objetivo disso. Também não mais se justifica a defesa de uma turma acostumada a mentir sobre o que faz e principalmente, sobre como chegou e se mantém no grupo dos parasitas, obviamente autodeclarados de elite, que não são nem forçando a barra.
Ao redor do mundo, neste momento da história, ganha muita força e adesão, a defesa dos interesses do pequeno grupo de verdadeiros ricos, sob a falsa versão de que são interesses de toda a sociedade. O motor, já sabemos que é a organização informal e o combustível são os as informações falsas, desinformação e o ilusionismo que encanta grandes massas. Esta adesão, na prática é comprada, com recursos de origem governamental, seja direta ou indireta, em desvios ou contratos que vão desde pequenos serviços a grandes empreendimentos. Isso não é novidade, foi construído ao longo do tempo, desde as primeiras experiências de sociedade civilizada. A rede de apoio e admiração, muitas vezes com fervorosa defesa e devoção, é comprada e não se forma espontaneamente, não vem no DNA.
Exemplos recentes ajudam a entender melhor o porquê de falar em desmame. Observe o que há implícito na frase “é o agro que sustenta o Brasil”. Na Europa, observe a onda de culpar e perseguir os imigrantes, “essa gente que vem roubar nossos empregos e contaminar nossa cultura”. Em parte da Asia, a inacreditável cegueira na defesa incondicional dos EUA, em guerra declarada a China, atualmente no campo comercial, cultural e “soft” militar (com ocupação de territórios asiáticos para instalar bases militares dos EUA).
Em cada um dos exemplos acima, cabe a comparação entre quem abraça de forma tola às causas da moda, com a atitude da tia na fase do desmame da criança que não é dela. Ouvir de um trabalhador do comércio, em função operacional, a defesa vigorosa do setor chamado de “agro”, acompanhada de uma citação de ódio ao governo que “só atrapalha quem quer trabalhar”, confirma que a adesão a um discurso mentiroso é muito mais forte do que o desmentido dele. Com isso, aqueles que construíram esse termo “agro”, com tamanha habilidade para encantar pessoas tão alheias ao que eles realmente fazem, continuarão aproveitando o apoio da tia para mamar no estado e na verdade, continuar parasitando a sociedade eternamente.
O tal “agro” é apenas um exemplo mais constante e de mais fácil contato, seja em metrópoles, cidades menores ou até mesmo na área rural. Mas, o grupo que precisa ser desmamado, é muito maior. É o grupo que tem mudanças nos nomes, somente porque o ser humano não é imortal. A passagem em forma de herança, até este momento, parece sim ter sequência indestrutível, com exceções que em números e estatística são irrelevantes. Uma outra forma de entender a metáfora da criança com seis ou sete anos de idade que ainda é amamentada no peito da mãe, pode ser observando a malandragem no uso da expressão direito adquirido, quando na verdade refere-se a privilégio descarado.
Quando alguém dá a entender que chegou a hora de desmamar grupos como militares, a alta casta do chamado judiciário e os que chamamos de políticos, juridicamente esbarra na expressão direitos adquiridos. Informalmente, o combate a ideia do desmame entra em ação e chega rapidinho no mesmo trabalhador do comércio em função operacional, que vai por longo tempo repetir algo como: “viu a nova desse governo? Quer mexer no direito adquirido. Daqui a pouco vão chegar em nós também e ninguém faz nada”. Antes que a proposta de desmame seja divulgada, já se formou a rede de defesa composta por pessoas repetindo a postura da tia que defende a criança atrasada na fase do desmame.
Se por um acaso, teu pensamento escorregou para o lado de quem repete a tolice de que quanto mais a pessoa ganha, mais ela gasta, mais imposto paga, mais direto tem de reclamar, não há melhor momento para puxá-lo e retornar à realidade, libertá-lo do ilusionismo que o fez derrapar em tamanha bobagem. Sonegação de impostos e seus outros nomes chiques, é uma lição constante desde a iniciação, desde as primeiras interações no grupo que precisa ser desmamado. Falar o contrário disso, dando a entender que quem mais paga são eles, também é lição frequente. Alguns mais descaradamente chamam isso de uma arte e parece ser mesmo. Algo que consegue convencer tantas pessoas que não estão no elenco a aplaudir e se encantar, realmente pode ser uma arte.
Aos artistas é pago muito menos do que eles acreditam que vale a sua arte. Isso pode ser feito por nós em relação ao grupo que precisa ser desmamado. Seus privilégios devem ser extintos, para que tenhamos no mínimo igualdade de condições neste momento. Diferente do que ocorre na arte, a verdade precisa ser uma das sustentações do que nos coloca em sociedade. Nas artes, a liberdade de provocar emoções com algo que não seja real, mais do que um direito é uma ferramenta legítima. Fora das artes, é algo a ser eliminado. Se vamos continuar acreditando que estamos em sociedade e que isso é bom e viável, será uma tolice imensurável manter uma parte sendo tratada como a criança de seis ou sete anos que quer continuar mamando no peito da mãe. Pode ser um bom começo, entender que isso é ruim. Depois parar de acreditar cegamente que os privilegiados têm direitos adquiridos que são intocáveis. Por fim, defender a verdade, fazer com que o grupo que surfa nos impostos pagos pelos outros, desça da prancha e venha remar como nós estamos fazendo.
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Conteúdo extra:
Ficou complicado de entender alguns pontos do texto? Sem problemas, é possível explicar mais mastigadinho, mesmo que seja entrando voluntariamente ao grupo dos chatos.
Perceba o quanto é falso que exista um setor chamado de “agro”, sendo atrapalhado pelo governo ou sendo a elite do país, o setor que sustenta a nossa sociedade. Falso e carregado de desinformação e distorções da realidade. Comece pensando em números fáceis de visualizar, por exemplo, quantas pessoas trabalham diretamente no setor defendido. Em outras palavras, quantas pessoas trabalham em fazendas de soja, milho, cana, gado, café, e quantas trabalham no comércio, indústria e serviços. A última pessoa que te falou a frase “é o agro que sustenta o país”, trabalha com o quê?
Mais mastigadinho um pouco, observe uma contradição entre o dito e o feito de verdade. Para sustentar o país, o tal setor “agro” teria que gerar receita ao estado, pagando impostos. Caso tu ainda não tenhas entendido, uma tonelada de milho vendida por um “agro” aos EUA, estando isento de impostos, vai gerar renda ao estado de que forma? É muito fácil atualmente, encontrar informações reais sobre o quanto de impostos será recolhido ao estado (nossa sociedade com os ricos), na venda da tonelada de milho do exemplo que dei. Espie rapidamente a Lei Kandir, que desde 1996 funciona como a mãe que alimenta no peito uma criança de seis ou sete anos de idade. Caso queiras seguir como a tia com dó da criança coitadinha, antes observe números reais e fáceis de entender, com o único esforço de saber o que é um, quanto é mil, milhão e bilhão.
Dados oficiais, pesquisados nas fontes: Conab, Secex e Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento). Entre os anos 2000 e 2024, os proprietários de fazendas que produzem Soja, Milho e outros grãos, exportaram 271 bilhões de Dólares, na soma oficial do valor destes produtos. Aqui uso soma oficial com muita ironia, vivendo no Brasil, sabemos que qualquer coisa, qualquer número, todos os business por aqui, apresentam o oficial, mas, existe o por fora e não é pouco. Seguindo, não se perca nos números. Mentalize 271 bilhões que em nossa moeda, na cotação de hoje, vale 1 trilhão e 600 bilhões. Deste total, quanto foi para a nossa sociedade? Se te der vontade de responder que tem os trabalhadores, os caminhoneiros e taxas nos portos, combustíveis, blá blá blá, sinceramente, tu estás incurável.