A palavra “limite”, como referência, encaixa e ao mesmo tempo incomoda. Coloque ela nessa aparente bagunça, de conflitos bizarros e desnecessários, coincidindo com o momento de mais fácil acesso a comunicação e ao conhecimento. Quem for capaz de enxergar e entender que atingimos o nível exagerado, não terá dificuldade em atualizar o modo de pensar, agir e reagir. Podemos assim, caso haja vontade, reorganizar a vida social e conviver muito tranquilamente. Mesmo que para algumas pessoas, isso seja terrível.
Considerar que estamos vivendo um momento bagunçado, não é bobagem ou chatice. Simplesmente passando das camadas superficiais para camadas intermediárias de percepção e observando fatos, momentos, atos e consequências, em qualquer tipo de amostragem, vamos chegar a essa visão de desordem. Não é aplicável o tal copo meio cheio ou meio vazio, não perca tempo desviando a mente para ditados tolos como este, principalmente quando fora de contexto. Tolice é ficar na primeira camada aparente e cegar ao que está nas camadas seguintes. A exposição do que a análise apresentará, pode ser questionável, pode haver argumentação contrária e debate produtivo, tudo dentro do equilíbrio desejado. Mas, não pode haver “faz de conta”, nem deixar de lado, acreditando que tudo se resolve naturalmente.
Algumas palavras e expressões frequentes, interpretadas de inúmeras formas diferentes da real, são usadas como armas para acalorar conflitos, ao invés de usá-las como luz para encaminhar entendimento. É uma bagunça o resultado do que se entende hoje por liberdade, patriotismo, religião, desigualdade, educação e muitos outros assuntos erroneamente prioritários nas horas de convivência social. Seja em conversas obrigatórias, como no trabalho, seja quando estamos em ambientes comuns de convivência (que poderiam ser mais suaves e festivos), temos nitidamente o exagero e o teto, a linha limitadora entre o aceitável, a tolice e o bizarro, desnecessário.
Trazendo exemplos práticos, a expressão pobre de direita é um bom começo. Falar isso em ambiente de trabalho ou social, vai resultar em confusão. Não haverá espaço para entender o que é ser pobre e o que é direita, centro ou esquerda. Será apenas uma disputa entre quem fala mais bobagens e mais alto, confirmando a bagunça do início deste texto. Vai surgir o entendimento distorcido, manipulado por liderança religiosa, virá a pessoa piadista que decorou memes e não vê a hora de colocá-los na conversa e o analfabetismo funcional que mistura assuntos em fala desconexa. Também teremos a pessoa que tenta explicar com metáforas tolas, do tipo que misturam as de limão na laranja e formará outra bagunça ainda maior. Pessoa tola, assim classificada por apenas repetir o que ouviu e comprou como certeza, dito por alguém que compartilha tudo sem ter entendido nada. No final, baixando a poeira, temperatura e pressão, seguimos com pobres de direita. Na visão superficial, tudo bem, é do ser humano, é coisa de política, deixa isso de lado, faz uma piada e encerra o assunto. Olhando para uma camada intermediária de análise, aparecerá quem explora essa bagunça e alimenta a confusão para lucrar muito, e manter funcionando um sistema cansado, saturado, rindo de pessoas otárias. É um loop, ciclos repetidos e permanentes.
Outro exemplo, a bagunça no que é entregue como produto para consumo em massa. Observe a qualidade do que é vendido como transporte, seja de pessoas ou não. A imagem vendida é de tudo funcionando corretamente, de alta tecnologia aplicada, inovações, infraestrutura, agilidade, eficiência e tal. Tudo simplesmente evapora, quando quem comprou precisa do chamado suporte, seja para atrasos, acidentes, danos, desconforto, não cumprimento do que foi combinado, enfim, quando o que foi vendido como imagem e produto, não aconteceu. Na visão superficial, está em porcentual irrelevante, é normal que aconteça alguma falha. Quando vemos uma camada a mais, aparecem as falhas de entendimento do que deveria ser feito pelos profissionais envolvidos, aparece a mentira para vender e aparece quem está lucrando muito, rindo de pessoas otárias. Ciclos repetidos e permanentes.
Alimentos que não são funcionais ou que prejudicam a saúde, mas, são deliciosos. Remédios equivalentes a charlatanismo, medicina em sistema de “produtividade” para faturar mais, comercialização do conhecimento, construção de moradias em conhecidas áreas de risco, arma sobre a Bíblia, seguradas por pessoa falando em liberdade, polícia corrupta, comida no lixo e vida de luxo a animais, dinheiro virtual, escravidão não explícita, dejetos na mesma fonte de água “potável”, segregações do tipo quem pode paga, quem não pode, dane-se. Exemplos e mais exemplos do que superficialmente é assim mesmo, é do jogo, faz parte, deixe de ser pessoa chata, pare de ser do contra.
Mais uma vez saindo da superficialidade, é fácil entender que precisamos de um novo acordo de convivência. Do tipo que nasce independente do governo e governantes, sem que se possa identificar quem foi ou é o líder, que não tem formalidade escrita ou falada, que sequer é possível saber quem começou, quem teve a ideia. Este acordo, é melhor que seja percebido quando já estiver realizado. E começa com uma simples percepção: não dá mais para seguir assim como estamos hoje. É o famoso já deu, exageramos, atingimos o limite e não deu certo. Pouco importa se tu estás em condição privilegiada ou desesperadora, a resposta ou adesão ao novo acordo, é particular, de foro íntimo, com o compromisso assumido e fiscalizado apenas pela tua consciência, teu ego, tua alma.
Antes que venha o descrédito e o deboche, é importante lembrar que não é novidade o rompimento de ciclos do tipo que parecem normais e são insustentáveis. A mudança cultural, o abandono de correntes de pensamento e de acordos de convivência, formais ou informais, são movimentos que acompanham a existência do ser humano e são registrados, percebidos na passagem do tempo, estão no que entendemos como história. Para não ficar vago ou abstrato, posso citar ciclos e formas de convivência como no Egito antigo, o que sabemos sobre a vida no período dos Mongóis, Persas, Gregos, Romanos. Conhecemos e temos acesso a registros sobre a organização social nos impérios, reinados, principados, relatos e registros sobre as influências do iluminismo, a vida no período feudal, os movimentos como as cruzadas. Estes períodos já vividos pelo ser humano com sinais de organização social, nos trazem a referência de ciclos, culturas, filosofias, modos de governo, domínios territoriais. Não podemos ignorar que foram extintos, reduzidos a quase nada ou substituídos. Sabendo que o ser humano viveu e superou as fases anteriores, mesmo que seja apenas na passagem do tempo, com aprendizado e evolução muito questionáveis, afirmo sem medo de errar, que estamos atrasados quanto ao momento de romper com o que fazemos hoje.
Um exercício, antes que a tentação de considerar o que escrevo como bobagens, tome conta da tua mente. Observe o que está contado na história, sobre Confúcio (Kong Fuzi), Buda (Siddhartha Gautama) e Cristo (Jesus). Deixe por hora a questão religiosa, dogmas ou a etnia destes três, que foram alvos de estudos, testagens, adoração e rejeições (um deles condenado e assassinado). Quanto mais leio a respeito, mais percebo que a base das proposições deles tem muito em comum e ao meu entendimento, ambos surgem em momentos de importante percepção quanto a necessidade de outro acordo social, de romper o modo ruim como as pessoas de suas respectivas épocas estavam agindo e assim, buscar a melhor convivência. Eles perceberam que o limite estava atingido e o rompimento proposto, também da forma que entendo, era muito mais difícil do que hoje. Considere que Buda e Confúcio estavam fisicamente separados por mais ou menos cinco mil quilômetros. Atualmente, para esta distância, é possível fazer ida e volta no mesmo dia. Mesmo assim, até que surja alguma evidência, eles não se conheceram. Cristo viveu depois e até onde sabemos atualmente, não teve contato com os ensinamentos e filosofia dos outros dois. Em comum, a proposição de rompimento, a percepção do já deu e não temos como continuar nesta bagunça. Também a projeção de pessoas vivendo em paz, felizes, evoluindo e organizadas de modo que o individual seja compatível e benéfico ao coletivo, em loop, conectados e interdependentes.
Registro uma percepção pessoal sobre os três citados, quanto a paz, harmonia e modo de viver em sociedade: a ideia é a mesma, com palavras diferentes. Este é um assunto longo que envolve dogmas, ao menos a dois deles, transformados pós desencarnação, em “religiões” impraticáveis sem alta dose de hipocrisia. Ao tocar neste tema, o raciocínio é anulado com questionamentos e dúvidas, principalmente pela tendência humana de mudar a verdade para adequação a uma conveniência momentânea. Mas, citar os três, é necessário para chamar a atenção a rompimentos, mudanças muito relevantes para milhões de pessoas no mundo e iniciadas por pessoas que não estavam em governos, partidos políticos, igrejas, associações ou qualquer coisa do tipo. Como não temos hoje a perspectiva de encontrar pessoas sequer comparáveis a eles, nosso rompimento e mudança, por obviedade não terá uma pessoa liderando ou no comando. Isso irrita quem enxerga o mundo a partir de um sistema onde é necessário ter um alvo para ataques e enfraquecimento.
Insisto na referência a Confúcio, Buda e Cristo, por também observar que em comum aos três, o contexto social, o como as pessoas estavam subordinadas, dominadas e aceitando o que era regra formal e informal, é descrito de forma que desenha o limite atingido em suas épocas. Por exemplo, a corrupção. Espero que não tenha surgido apenas um nome da política atual na tua cabeça ao ler esta palavra e que teu cérebro possa estar livre do que foi vendido como combate e símbolos da luta contra este mal, que na verdade são agentes fiéis e nefastos que alimentam e participam diretamente do que dizem combater. Mas, o sentido desejado para entendimento é a forma desonesta nas relações pessoais, permitir ser corrompido e corruptor. Estamos no contexto da história antiga, Buda e Confúcio são quase contemporâneos e mesmo com a distância física entre os locais que viveram, as relações sociais e pessoais dos povos, estavam sob forte impacto da corrupção. Cristo viveu em outro período e outra região, mas, lá estava a corrupção presente nas relações pessoais e a nós, distantes fisicamente do local dos três, com mais de dois mil anos depois, a maldita continua existindo aqui, formando parasitas insaciáveis. Repito a minha percepção sobre a mesma base do que os três estavam vivendo e propondo: do jeito que está não podemos continuar, devemos romper e mudar. Não é uma coincidência, mas, estamos basicamente nas mesmas condições e ponto de ruptura.
Faço um convite a observar o que o ser humano já viveu, para que haja percepção de que não é necessária qualquer invenção. O que ocorre e o que podemos fazer, está posto há anos. Milhares de anos. Não é questão de fé, religiosidade, aceitação dos dogmas ou algo transcendental. É pragmatismo.
O efeito prático de não alimentar o sistema, além de não ultrapassar o limite de agora, é abandonar o ciclo que não trouxe bons resultados. Ou parece bom viver na mentira, falcatrua, trapaça, malandragem e enganação? A resposta é óbvia, mas, a pergunta é necessária. Enquanto toleramos, estamos também alimentando o parasita que parece ainda não ter entendido, que sufocando e eliminando o hospedeiro, está colocando em risco a própria existência. É uma escolha a ser feita, entre aceitar a roda girando no trilho da bagunça ou romper, sair deste trilho e fazer da vida o que já foi proposto há muito tempo. Muito tempo mesmo, só os três citados acima nos convidam a olhar para mais de dois mil anos passados.
Golpes de todos os tipos, entendendo a expressão como aplicar a trapaça, a malandragem e enganar alguém. A maior parte é explícita, busca roupar, tirar algum dinheiro ou patrimônio. Em igual gravidade e talvez até em volume de dinheiro ainda maior, está o golpe do incentivo ao endividamento “para ter as coisas”, a venda de uma imagem apaixonante que na verdade entrega um produto horrível, de qualidade muito questionável e supervalorizado. Golpes com imagens falsas, manipuladas, de difícil percepção para quem não é especialista no assunto. Indução ao erro através da arquitetura da desinformação que leva ao encantamento e a compra de uma ideia, uma corrente de pensamento, contrária ao que realmente interessa a quem aderiu. São apenas alguns exemplos superficiais do limite alcançado. Já deu, não tem mais como continuar assim.
Estamos na camada intermediária de análise e percepção, mesmo assim, nela é possível entender que há um limite atingido, há uma opção para sair desta tolice, há relação do momento atual com o que aparece em outras fases da vida humana, há uma escolha a ser feita. Vamos deixar a análise mais profunda, o avançar em mais camadas, para pessoas especialistas, que saibam aplicar os métodos sem viés, replicáveis, passíveis de testes e confirmações ou negações. Principalmente quando o tempo de agora estiver a uma distância razoável para que seja analisado e com resultado avaliado.
Cinco, vinte, quarenta, cem, duzentos anos para ter algum benefício com a saída do ciclo atual, não há como prever. Pouco importa se vamos ter novas descobertas tecnológicas revolucionárias nos próximos dez anos, se vai ser automatizado, quântico ou virtual. Nada disso terá valor, sem a continuidade saudável da espécie humana. Concordando que estamos no limite da autodestruição, não espere uma regra, autoridade, lei ou liderança, que oriente ou obrigue a tua escolha. De forma bem simples e prática, observe o que tu estás fazendo agora e que está nos teus planos, aqueles desejos que sempre temos, da compra de uma guloseima a organização para a vida na velhice, perceba com que qualidade isso está sendo feito, qual o retorno que está sendo atraído, como isso tem relação com o limite que atingimos. Silenciosamente, por mais chato que possa parecer.
Lembrando que tem pessoa golpista caindo em golpe, pessoa que acreditou estar tirando apenas de otários sendo enganada por malandragem ainda maior. Pessoas traidoras, sendo alvo de trapaças humilhantes, quem vendeu gato por lebre comprando fumaça. Lembrando que impérios se tornaram irrelevantes ou apenas registros na história, grandes fortunas pulverizadas em resultado de disputas ou transformando paz em guerra. Lembrando que toda guerra é burrice, falência da habilidade humana em aplicar o equilíbrio de forças. Lembrando que o valor do dinheiro é uma abstração e que olhando o mundo a partir do espaço, não se vê fronteiras. Lembrando que quanto maior a árvore, maior o tombo. Limite atingido, já deu. Escolha para qual caminho o teu próximo passo vai te levar.