Ciúme.

             Muito remédio. É uma desculpa frequente quando uma pessoa é flagrada fazendo algo absurdo, seja leve ou com gravidade. Será mais chocante se o estereótipo desta pessoa, estiver ligado a um grupo em que a moral, a superioridade seja incompatível com o que aconteceu. O absurdo mancha a imagem do grupo. Aí o efeito de remédios é a primeira tentativa para tirar o peso do fato registrado. Quem não se entrega a tolice, percebe de imediato a mentira e sabe que a motivação foi outra, causas e consequências implícitas e fáceis de relacionar com a “construção” do ocorrido.

             A mesma base de raciocínio se aplica a quem está com dificuldades para esconder o ciúme. E não estou escrevendo sobre o ciúme da pessoa amada, aquele cantado e declamado na cultura popular. O foco é o ciúme escondido em falas, análises, opiniões ou conversas que neste momento da história, encontram audiência e atenção pulverizadas. Quanto mais mimada a pessoa considerada conhecida, publica ou famosa, mais fácil captar o ciúme. É claro que haverá sempre a busca por descontruir esta característica, seja por estorinhas onde no passado teve que superar frustrações, seja atacando outras pessoas com o famoso “acuse o outro daquilo que tu és”.

             Convido quem estiver lendo este texto, a prestar atenção em pessoas extremistas ou com “fixação” em atacar, criticar, julgar um grupo ou uma outra pessoa. Não faltam exemplos na mídia atual, com os múltiplos canais de exposição, basta uma observação aos detalhes. Não é novidade que por ciúme, é criado um tumulto, ataque a alguém na tentativa de convencer o maior número de que aquele alvo é algo muito ruim, que deve ser desprezado. É uma Tolice conhecida para quem tem tempo de prestar atenção nos detalhes.

             A qualquer momento, cabível ou não, ao perceber a menor oportunidade, a pessoa mimada vai expor o ciúme. Em meio a uma conversa sobre “política”, economia, cultura, em um texto ou comentário, seja respondendo ou simplesmente completando uma resposta de terceiros, vai aparecer. O tempo e os costumes nos trouxeram a este momento, onde pessoas mimadas estão nos espaços de poder e conquistaram também os meios que levam a audiência massiva.

             Quem lida bem com o ciúme? Há quem saiba melhor disfarçar. Há quem precisa de apoio para evitar problemas maiores. Não é saudável haver a tolice de comprar uma ideia criada por ciúme, aumentando o calor de conflitos e extremismos.

             Para ilustrar, uma estorinha:

             “Bernardo ganhou um chinelo verde. Ao passear com ele, ganhou também atenção e elogios. Bruninho até então era o centro das atenções, seu chinelo azul era o sucesso. Também passeando, ele percebe e entende que perdeu o espaço para o amiguinho. Ao saber que não teria um chinelo igual ao do Bernardo, Bruninho tomado pelo ciúme, passa a atacar a cor verde, ataca quem usa qualquer coisa verde e ao menor sinal de que algo verde está ganhando atratividade, ele usa tudo que possa despertar nas pessoas a rejeição ao verde. Não dá o resultado desejado e Bruninho não consegue lidar com o ciúme gerado pelo chinelo verde do Bernardo. O tempo passa e Bruninho continua a atacar o verde. Já adulto solta frases como ‘essa fase de pessoas gostando de coisas verdes vai passar, vamos voltar ao normal’. Bernardo está longe de ter conflitos com as cores de objetos e continuou conquistando elogios por outros motivos e outras situações. Certa vez, mentalmente envelhecido, Bruninho fala que não quer mais conflitos, que está em outra ‘agenda’, que prefere agora a liberdade de poder falar o que pensa sem que uma cor possa influenciar o que é bom ou ruim, sem se incomodar se uma pessoa recebe mais atenção do que as outras. E parece ter amadurecido, até tem um grupo de pessoas que está alinhado com ele em muitos temas, muitas pautas. Mas, os aliados do Bruninho possuem uma coincidência em suas trajetórias: declaradamente odeiam a cor verde.”

             Somos tentados a concordar com enciumados, aderindo aos mimados raivosos como se a causa deles também fosse nossa. Tolice, é só ciúme.