E ?

             Uma expressão considerada antiga e pouco conhecida das pessoas com menos de cinquenta anos, é tomar chá de semancol. Em existindo um ranking com as principais antitolices, ela estaria entre as cinco facilmente, com honra e mérito. É também uma fonte de exposição de verdades que incomodam e quem as aponta, de imediato vira uma pessoa chata, cansativa, infeliz, rabugenta, estraga prazeres da vida louca.

             Quem assim desejar, faça uso de Chá de qualquer coisa que ajude a responder, a uma pergunta poderosa demais apesar do seu tamanho em quantidade de letras: e?

             O altíssimo grau de relevância que uma pessoa pode dar ao que na verdade é uma tolice, desaba quando encontra a pergunta “e?”. Comece a perceber essa antitolice, com um exemplo simples: em uma situação em que tu estejas de carona e quem conduz o veículo, é uma pessoa estressada, raivosa, que buzina para tudo e xinga todos, sempre repetindo “aqui o povo não sabe dirigir”. Sei que é chato, mas, faça um teste e fale logo em seguida ao motorista: e?. A reação inicial é totalmente previsível. A pessoa desarma, fica procurando o que falar e normalmente tenta reagir com mais uma frase repetitiva: “e o quê? Não viu o que este (…) fez?”. Mesmo confirmando que viu, siga falando algo como: “Ví sim, o carro da frente precisava entrar em um estacionamento, reduziu a velocidade, começou a virar e levou uma sonora buzinada e um xingamento clássico”. Em seguida repita a tua pergunta “e?”.

             Não terá sequência porque a reação habitual não passa de uma tolice. Comportamentos individuais repetitivos, automatizados por memórias, imitações “involuntárias”, são perpetuados pela falta do “semancol” e em algum momento, com ou sem a pergunta poderosa (e?), ocorrerá uma interrupção. E quando não acontece, podemos e devemos acelerar este processo de antitolices, forçando o chá de semancol com a pergunta “e?”.

             Pessoas ansiosas vão ficar irritadas. As agressivas vão partir para a luta corporal ou intimidação. Egocêntricas tendem a buscar formas de se afastar. Distraídas sequer vão entender o sentido da pergunta. Pseudo poderosas vão apelar para o uso da hierarquia. Malandras tendem a buscar formas de reverter a derrota. Raríssimas são as que vão perceber que a tolice não traz nada de valor, não resolve nada, nem mesmo abre as janelas para a luz entrar como solução ou energia boa que vai ajudar a evoluir, superar.

             É importante diferenciar tolices de bobagens inofensivas. Quando estamos em ambiente descontraído, festivo, quando estamos rindo à toa, podemos perceber de maneira bem simples a diferença. Se após a pergunta “e?” vier algo mais engraçado e ainda mais risadas, é melhor aproveitar o momento feliz, foi só uma bobagem. Ria.

             Para todas as outras situações, tenho a sensação de que vale escolher entre alimentar a tolice habitual ou evitar que ela cresça a ponto de se tornar perigosa para algo mais importante. Perder tempo sabendo que a vida é curta, é tolice. Usar a pergunta “e?” para não perder tempo ouvindo conversa burra, é uma antitolice. Assim como perguntar a si mesmo, usar a pergunta “e?” para o que fazemos em modo automatizado, torna-se uma importante antitolice. Fortalece o autoconhecimento e funciona como chá de semancol servido para uso pessoal.

             Em tempos de muitas polêmicas, muitos assuntos e situações que não pertencem ao nosso contexto, ao nosso importante uso do tempo, a pergunta “e?” é mais útil do que parece ser. Sabe aquela eleição em outro país, aquela que todos estão falando e comentando? Então, pergunte a si mesmo, e? A resposta naturalmente vai te levar a não perder tempo com isso. Sabe aquela briga de torcidas? E o debate sobre o uso de um produto tal? Sabe a última atualização sobre aquela guerra besta por besteiras alheias ao teu cotidiano? Têm coisas para as quais vale a pena uma perguntadinha, disfarçadamente para não chamar muito a atenção. Sabe aquela voz que na tua mente diz: “humilhei, mostrei quem manda” ou “nossa, lacrou, é disso que estou falando”. Pois é, dependendo da resposta para a pergunta “e?”, não passará de uma tolice.