Há duas tolices que apesar de diferentes em consequências, devemos ficar longe delas. Qualquer pessoa que tenha a intenção de viver bem e em paz, terá que fugir da tentação de acreditar facilmente em imagens ou palavras e em igual importância, jamais negar o que está revelado por uma verdade. Cair em mentiras e negar verdades, por ignorância ou impulso emotivo, por encantamento ou revolta, indução ou de forma consciente, são tolices graves.
Duvidar talvez tenha entrado na relação de palavras que pelo excesso de uso, não podemos mais considerar que todos sabem o significado e como usar. Por consequência, a falta de colocar dúvidas em nossas escolhas, está diretamente relacionada com o excesso de mentiras e das negações. Isso está acontecendo no momento da história humana em que se tem acesso a “informações” de maneira mais rápida, mais volumosa e mais fácil. Antes desta fase que estamos, pessoas otimistas acreditavam que com melhor acesso, com mais fluxo de “informações” entre as todas as classes sociais, seriam naturalmente combatidas aquelas que induziam ao erro. O otimismo foi excessivo e ao contrário do desejado, as mentiras e tentativas de desinformar, estão muito mais fortes e presentes.
Aos mais atentos, informação é diferente de suposição e muito comprometida quando a visão ou alcance da pessoa propagadora, é limitado, raso. A mentira e a desinformação, parecem mais interessantes e sedutoras no primeiro momento, é inegável. No segundo, o desejado seria nada mais que a dúvida, antes da aceitação e compartilhamento transformando o falso em verdade. O terceiro, é também o mais complicado, por ser diferente para quem colocou em dúvida, criando uma proteção contra o erro, caso logo em seguida perceba a falsidade. Quem apenas aceitou, confiou e acreditou, terá a dura tarefa de assumir o engano, a tolice e por estar seduzido pela mentira absorvida, certamente vai espalhar, sem ter qualquer possibilidade de corrigir esta falha. É impossível levar a verdade, o desmentido e a informação correta, ao mesmo número de pessoas a que chegou o erro. Em tempos de ego elevado, não é possível prever a reação de cada pessoa, mas, é possível saber que vai ser difícil ao enganado reconhecer que foi levado a tolice. Entre outros fatores, por exigir maturidade muito elevada, assim não acredito que seja possível atualmente, uma pessoa admitir que foi trouxa, aprender com o erro e ajudar outras com a prevenção.
Cada vez que caímos numa dessas ondas de coisa falsas, entramos em dívida com o simples ato de duvidar. Aqui entenda-se como usar perguntas de checagem, questões inteligentes ou básicas para frear o impulso imediato provocado pelas sedutoras mentiras. Freio é uma das mais poderosas atitudes de antitolices.
E ao receber uma verdade, a tentação em desacreditar, da mesma forma induzida ou consciente, também nos coloca em dívida com a dúvida. Por ser incômoda, por parecer diferente do que consideramos “normal”, talvez por contrariar algo que temos como certeza, por parecer absurda, por qualquer motivo, a verdade não pode ser negada. A exceção óbvia, é para quem esteja ganhando algo com a tua tolice.
Haja tempo. Este é um desejo e uma percepção. Onde tudo vira negócios, business declarados ou disfarçados, a falta de tempo é fator contrário a quitação da dívida com a dúvida. Por exemplo, o lucrativo e atualmente viral negócio em que se transforma um recorte de uma fala, imagem ou situação, em muitas e muitas horas de argumentações, opiniões, situações imaginárias, futurologia, julgamentos e tudo mais que renda retorno financeiro e traga peso muito maior à sequência do que a origem. O produto explorado não é o recorte, é o teu tempo. Este mesmo que deveria estar disponível para duvidar, simplesmente é transformado em renda para quem aprendeu a dominá-lo. Antes que a tua mente possa acionar a dúvida, vem a sedutora carga de palavras ocupando cada espaço possível, induzindo a concordar com quem está no comando. E não adianta perceber depois que foi usado por eles, pois o tempo não volta. É cruel, mas, verdade.
O fluxo da vida vai cobrar a dívida. Sem horário, sem data, sem aviso. A qualquer idade, a todas as classes, até mesmo para arrogantes iludidos com a tola imunidade autoconcedida. Antitolice e cessar a rolagem e alimentação desta dívida, a começar pela dúvida ao que está escrito neste texto.
