Tirar um dinheirinho ou dinheirão de alguém, de forma lícita, de preferência com repetição automática. Não sou historiador e mesmo com conhecimento superficial sobre o assunto relações sociais humanas, vou arriscar que a tentativa de “vender” alguma coisa, para receber o dinheiro de outra pessoa, seja tão antiga quanto a comunicação. Por achismo, acredito que até mesmo antes de existir o que entendemos por dinheiro, o ser humano já tentava “se dar bem” o tempo todo.
Sendo de um para um ou em massa, esta tentativa de tirar o dinheiro dos outros tem características conhecidas, mas, a considerar o volume arrecadado e a quantidade de pessoas que por tolice ou fragilidade, ainda alimentam este monstro, há uma pergunta sem resposta direta: até quando existirá isso?
A sofisticação dedicada na arquitetura, parece ser proporcional ao que será arrecadado. E não estou falando de golpes. Observe como exemplo, as chamadas “contas” com pagamentos mensais, quase obrigatórias, do tipo energia elétrica, consumo de água, “telefonia”. É sofisticado o esquema, onde coisas óbvias como pagar somente pelo que consumir, são ignoradas e surge o mínimo obrigatório, sem opções. Também não adianta tentar um questionamento, haverá sempre uma justificativa, um fator técnico, alguma forma de convencer que não estão extorquindo e sim prestando um serviço maravilhoso e indispensável, onde cada centavo recebido será investido em melhorias e qualificação do sistema. Este é um exemplo clichê e mesmo que percebido por milhares de pessoas, se mantém intacto ao passar do tempo.
Com a “evolução”, chegamos ao que motivou este breve texto. Vendas em massa, seja de produtos, serviços ou ideias, seja de comportamento ou indução a consumir algo. É impossível mensurar em valores o quanto este “mercado” gera a quem o está explorando. Mas, é possível perceber padrões e sinais comuns na forma como isso é oferecido. O mais impressionante, é a criatividade para mensurar o alcance.
Em um cenário atrativo, pessoas conversam sobre um tema qualquer. Por exemplo, alimentação. É algo que desperta interesse facilmente, todos os seres humanos dependem de alimentação para sobreviver – mesmo que a falta de humanidade ainda permita que milhões não tenham acesso. Na conversa, alguém precisa ser especialista ou ao menos passar a impressão de que é. Há um cuidado para que não fique escancarada a intenção de venda ou indução a ela. Em algum momento será citado algo como: “temos estudos que comprovam”. Talvez também seja dito “escrevi sobre isso em tal lugar” ou o famoso “tem um artigo que eu escrevi sobre este assunto”. No mínimo está sendo vendido o acesso ao artigo ou estudo, que obviamente será pago, preferencialmente por mensalidades. Mas, a venda pode ser de uma ideia, o despertar para um futuro consumo e sendo bem ajeitadinho, pode se transformar em uma verdade na cabeça de quem ouve ou lê, a ponto de ser compartilhado ou se tornar uma paixão. Não precisa ser um produto, apesar de que normalmente é ou será.
E como saber se a conversa do exemplo acima rendeu “bons frutos”? Com múltiplas formas. Os mais criativos me fazem rir e lamentar ao mesmo tempo. Volte ao cenário do exemplo descrito e imagine que na conversa ou entrevista, alguém vai citar que tomar sol com a palma da mão para cima é a melhor forma de absorver os benefícios do astro. Será supostamente validado por “estudos realizados”. Quem está promovendo a conversa, terá facilmente uma forma de verificar o alcance. Pouco tempo depois, observará pessoas tomando sol com a palma da mão para cima. Estou sendo bonzinho ao usar o exemplo da palma da mão, outras partes do corpo já serviram como forma de aferição do alcance do que foi vendido.
O produto pode ser qualquer um, desde serviços a carros, roupas, alimentos, remédios, calçados, perfumes, eletrônicos, imóveis, viagens, políticos, cursos, etc. A lista é infinita. O alvo é sempre o mesmo: pessoas tolas, dispostas a entregar dinheiro a quem criou o esquema e o divulgou com maestria.
Citei sofisticação, não posso esquecer que já foi grosseira e mesmo que percebida como indecente, pouco era possível fazer para escapar. Bancos cobravam um valor mensal, “simbólico”, para manutenção de conta corrente. Sim, para entregar o teu dinheiro a uma pessoa e permitir que ela utilizasse este para multiplicar o dela, havia uma taxa obrigatória, justificada como sendo necessária para manter os custos operacionais. E quem pensasse em deixar o próprio dinheiro guardado fora de um banco, era bombardeado com inúmeros motivos para não o fazer. Riscos como roubos, inundações ou incêndios, traças, perder a oportunidade de rendimentos em aplicações (taxadas também), até mesmo o terror de como seria caso morresse e ninguém encontrasse. Tudo muito bem justificado e explicado em canais de comunicação da época.
Sim, o ser humano hoje não vive sem dinheiro e sem as trocas dele por alguma coisa. As poucas tentativas de mudar esta forma de vida, ainda são frágeis e não convencem sequer os criadores delas. É dúvida recorrente se haverá uma forma de nos livrar deste mal. Quando é percebida a tolice comprada através destes esquemas parasitas, raramente ocorre ajuda aos que permanecem “tomando sol com a palma da mão para cima”.
Que os sinais de alerta das tolices sejam percebidos. Amém.
