A inteligência orgânica e natural é insuperável. Também é incontrolável, isso significa que pode estar produzindo algo muito bom ou ruim em qualquer medida. É difícil fugir dos clichês quando o assunto é a capacidade humana de surpreender, mas, em tempos de coisas instantâneas, é melhor ter formas de evitar que a surpresa seja negativa. E quando chegamos, considerando que pertencemos a humanidade, a um momento de ter muitas opções de rápido resultado, tem alguns dos nossos que sentem prazer em usar inteligência para enganar aos outros. Óbvio que além do prazer, há recompensas em dinheiro, poder e outras não nobres.
Uma mensagem chega através de um meio qualquer, incendeia nossa mente por conter algo que nos causa raiva, aquela reação que mistura indignação com revolta e tendo mais alguns ingredientes vira ódio. Jamais será apagado este resultado, o registro ficará ancorado em algum lugar da mente e como um vírus imortal, ao ter oportunidade, vai agir. Pouco tempo depois, recebemos outra mensagem, mostrando como a primeira foi construída, com inteligência utilizada para falsear o conteúdo, com detalhes muito bem planejados, direcionados a causar exatamente a reação que tivemos com ela. A segunda mensagem, que deveria apagar da nossa mente o vírus da primeira, consegue somente amenizar, mostrar que caímos numa armadilha. Mas, ela não consegue apagar totalmente, porque de tão inteligente e bem arquitetada, a primeira deixará aquela maldita raiz que sustenta a induzida vontade de acreditar no que é falso. Não temos antidoto para este mal, um que seja válido para 100% dos atingidos. O resultado, também clichê, será do tipo “passou a boiada”, não haverá nada que possa ser feito, para voltar ao momento antes da mensagem falsa e impedir o mal que a manipulação causou.
Aqui deixo uma sugestão, sabendo que terá pouco alcance e aceitação imediata. Em assuntos que podem te levar a escolher o lado errado da história, só acredite se foi visto ou acompanhado ao vivo, com todas as confirmações de realidade. Por exemplo, uma frase dita por uma pessoa pública, se chegar ao teu conhecimento através de um recorte, incendiando tua mente, seja forte e não acredite. Somente aceite o conteúdo do recorte, se tiver visto o todo no momento em que aconteceu. É difícil? Óbvio! Não somos onipresentes, nem mesmo temos todo o tempo do mundo para acompanhar o que está acontecendo por aí. Isso é óbvio. Mas, de qual forma será reparado o erro causado pela tua reação a um recorte manipulado ou falso? Ok, sei que tu não tens a resposta e talvez nem mesmo tenhas preocupação com isso neste momento. Será irrelevante, eu sei, ao menos até que algo grave, irreparável, aconteça contigo ou com alguém muito próximo das tuas relações afetivas.
Receber uma informação e sem saber se é verdadeira, alterada ou se houve alguma manipulação, mesmo assim acreditar que é real, por ter no subconsciente uma estética conhecida, depois formar ou “comprar” uma opinião a partir disso, é muito mais que uma tolice, é um risco. Quem não tem meios de pagar o custo do risco, deve ter meios de se tornar forte em antitolices. Acredite, são poucas pessoas no mundo atual que podem se dar ao luxo de correr estes riscos que as manipulações oferecem. Provavelmente, estas pessoas jamais tenham contato este texto, por motivos óbvios. A nós, deveria ser obrigatório avaliar se realmente precisamos saber o que disse o presidente de um país distante, da mesma forma que deveríamos obrigatoriamente avaliar se as interpretações disso, próprias ou “compradas”, são válidas e realmente afetam a nossa vida. Por observação, percebe-se pessoas guerreando por causas que não imaginam o funcionamento real, e voltando a questão da fala de um presidente qualquer, percebe-se pessoas “comprando” ódio por acreditar no dito. Na vida real, as canetas que assinam decisões, não possuem conexão com microfones ou câmeras.
Com ferramentas diversas e com uso da inteligência orgânica, está “fácil” e barato produzir um recorte falso e “vender” como acontecimento verdadeiro e relevante. Detalhes como o falso vento balançando galhos de uma árvore, encaixe perfeito dos falsos movimentos da face com palavras falsas, estão circulando como se fossem reais, em alguns casos causando dúvida até mesmo nas personagens do momento retratado. Não há e não haverá meios de controlar isso, tanto na criação quanto na distribuição. O uso da inteligência humana sempre vai superar as tentativas de combate e controle, mesmo quando houver meios artificiais considerados infalíveis para este fim. Lembre-se que há o fator corrupção e tudo se torna muito frágil.
A consequência futura – de só acreditar no visto e ouvido ao vivo – será de pessoas praticando a simples hierarquização do que realmente interessa. Será o inverso do que temos hoje. Possíveis informações falsas ou manipuladas, de assuntos distantes da nossa verdadeira realidade, por hábito serão descartadas, ignoradas. Vamos naturalmente priorizar o que está acontecendo em nossa casa, depois em nossa vizinhança, depois na fração próxima ao nosso bairro, seguindo em escala até que nosso tempo e prioridades sejam esgotados. Sobrando espaço, aí sim, vamos ver o que disse a pessoa artista que conhecemos por imagens ou sons que não sabemos se são verdadeiras, mas, que não nos influenciarão em decisões importantes para nossa vida. De forma orgânica, o que estará verdadeiramente nos levando a felicidade, será real, não poderá ser manipulado sem que nossos olhos percebam. O resto, de tão distante, poderá ser falseado propositalmente, sem nos impactar, desaparecendo como uma tolice sem valor, sem utilidade. Esqueça os clichês utopia, ilusão, sonho distante. Somos muito mais inteligentes e fortes, está faltando apenas a prática, o hábito. Ao longo da evolução humana, nós deixamos para trás algumas tolices, agora também vamos superar esta onda de gente ruim que não usa a inteligência da melhor forma.
