Alguém Se Interessa?

               Este texto não é recomendado para pessoas com mais de 50 anos. Principalmente portadoras da teimosia e rabugência exacerbada. Também não serve para pessoas de qualquer idade, com argumentos tolos, enraizados em um tempo já superado e rotinas que não funcionam mais. Desconheço uma forma de convencer o grupo descrito e assemelhados, de que não perceberam nas sutilezas da evolução que a vida mudou e continua mudando a cada dia. As frases que estas pessoas repetem, como “isso não existe” ou “por onde passo não vejo isso”, além de escancarar a idade mental, são tolices de quem insiste em negar o óbvio e criar uma realidade própria para se manter confortável, mesmo que seja uma âncora que os deixa travados em um ponto do passado.

               Receio que não seja possível quantificar os estudos e análises existentes sobre o tema trabalho no contexto social contemporâneo. Há os resultados interessantes e os chamados de “grosélia”, dependendo do ponto de vista de quem acessa. Sem a necessidade de muito esforço intelectual, o que se percebe, é a diferença entre o que significa o trabalho agora e o que significou até pouco tempo, estabelecendo dez anos como referência, para os que não conseguem pensar sem uma. É possível falar que este curto espaço de tempo – considerando o longo que vivemos em sociedade civilizada – revela muito mais do que o quase velho clichê sobre o desinteresse dos jovens em trabalhar. Este é um dos clichês que indica o tempo superado e a âncora em um ponto do passado, principalmente pela não percepção de que não temos tantos jovens quanto havia quando foi criado o clichê. Hoje o trabalho significa outra coisa, não depende da idade, depende da mentalidade.

               Caso isso não pareça relevante ou não tenha tanta nitidez, como simples exercício, abra um navegador de internet e pesquise vagas de emprego. Observe o esforço de quem anuncia, para dar um aspecto de “ual sensacional” a vaga publicada. Qualquer pessoa com o mínimo de experiência na vida, vai perceber que é uma fantasia e dentro da empresa anunciante a realidade é outra, a rotina será bem diferente da descrita e o “clima ual” vendido será desfeito em um ou dois meses de trabalho. Este é um sinal forte de que as coisas não andam muito bem na tentativa de conquistar talentos, como parece ser a convenção para denominar trabalhadores em geral, mais uma tolice, uma forma de iludir pelo uso de uma palavra com significado distorcido. Talento é uma coisa, empregado, funcionário, trabalhador, pessoa para cumprir tarefas, outra coisa bem diferente. Perceba que anúncios com estas características, estão buscando pessoas para funções “simples”, de salários modestos, para os quais retornando 10 anos no tempo, não era necessário tanto enfeite para atrair alguém e preencher a vaga. “Venha compor o nosso time… Buscamos talentos para nossa equipe…”

               É tolice acreditar que não existe a percepção no coletivo social, quanto aos fatores intrínsecos que dão corpo a este suposto desinteresse pelo trabalho formal (tradicional / convencional / formato industrial). Suposto, citando assim, por saber que a realidade é desconfortável para quem está contratando, por ter fatores que contrariam o fluxo desejado e entram em conflito com a velha forma de se tratar os “talentos”, por eles chamados de desempregados. Sim, talento na escrita da vaga, desempregados na conversa interna.

               Um destes fatores que alimenta o desinteresse, que até pode ter mais que os dez anos de referência, é de fácil acionamento no raciocínio da chamada massa de trabalhadores: o desperdício de tempo e de horas de vida. Resultado de matemática básica, ao contar quantas horas são dedicadas ao trabalho no formato “convencional”. Atualmente já se sabe que o expediente conhecido como “das 8 às 18”, não significa 8 horas diárias (como é vendido) e mais a compensação de alguns minutos para não precisar trabalhar aos sábados. Esta é uma “jornada” comum, mas, poderia ser das “7:30 às 17”, talvez das “13 às 22”, enfim, qualquer descrição do chamado expediente de trabalho. Note que a palavra já é ruim, seja ela expediente, jornada ou turno. O que pegou muitos de surpresa, foi o silencioso despertar das pessoas, no sentido de juntar um mais um, dois mais dois e perceber que para atender a estes espaços de tempo exigidos, é necessário mais algum para se preparar minimamente (higiene pessoal, alimentação, etc) e considerar também o tempo para deslocamento de casa ao trabalho, ida e volta. Não é raro um horário de 8 às 18 percebido como 6:30 às 19. Ou seja, confirma que não são 8 horas diárias e sim mais do que doze horas, simplesmente obrigatórias, dedicadas a sair de casa, permanecer no local de trabalho e trocar isso por uma remuneração.

               Aqui entra o segundo fator relevante, a proporção de horas vida versus remuneração, o quanto está sendo pago para cada hora dedicada e o quanto esta troca está sendo motivadora. Em alguns casos, a maioria por sinal, não vale o esforço. Esta percepção não “surgiu do nada”, houve sinais ao longo dos anos, como por exemplo o “fenômeno” home office, alavancado por uma pandemia, mas, que já existia antes dela e estava atraindo muitas pessoas por reduzir muito o tempo, as horas vida, dedicados obrigatoriamente ao trabalho. Este termo (home office) causa reações extremadas em pessoas com mais de 50 anos, que enxergam o tempo de trabalho como somente o expediente exigido pela empresa, sem considerar deslocamento, cuidados com o uniforme, preparação de alimentação complementar, etc. Além de ter aquela âncora já citada, que martela no subconsciente destas pessoas a tolice que diz: “quem fica em casa é vagabundo”. Logo ali, ao lado deles, tem uma pessoa em home office, produzindo muito muito muito mais do que a pessoa chata que se acha “super legal”, na fábrica ou no escritório.

               Mobilizar pessoas para alimentar um pequeno ou imenso business, traduzido como enriquecer uma ou mais pessoas proprietárias de algo, não está mais tão simples quanto foi em todo o período anterior aos dez anos de referência que já citei antes. Enquanto a ciência tenta responder perguntas como: quando começou? Quais os primeiros sinais? De que forma está se manifesta? Há um fator principal? É sistêmico ou aleatório? Enfim, as perguntas e problematizações tradicionais, o tempo passa e elas não acompanham a velocidade com que a sociedade altera as variáveis, fatores e respostas. A real movimentação de desinteresse em “se unir ao time”, não precisa de raízes conhecidas para sustentar seus pilares, galhos e frutos. A relação tempo versus remuneração é apenas uma, seguida da ponderação entre esforço e resultado, depois projeções de caminho árduo demais para a incerteza do progresso pessoal, além do entendimento de que a vida é breve e o que há de bom no mundo não está em um ponto fixo chamado de fábrica, loja, banco ou mercado, entre muitos outros que para quem passou dos 50 anos de idade, são subjetividades, coisas de quem está à toa e não gosta de trabalhar.

               Compare a rotatividade nos trabalhos convencionais neste momento, com a que existiu antes. Era comum uma pessoa ter orgulho em falar que trabalhou a vida toda em uma ou duas empresas. Não raro estas pessoas eram elogiadas e parabenizadas pelo feito. Porém, não faz mais sentido atualmente, por ser considerado limitação. A lógica é simples, com tantas coisas diferentes para conhecer, aprender e vivenciar, a pessoa desperdiçou dez, vinte ou trinta anos a uma única realidade. Por mais que se tente argumentar que a empresa passou por mudanças, que esteve em diferentes setores, não tem como refutar a verdade que não conheceu o que há além da perspectiva que teve, limitada pelos interesses e obrigações impostas por aquela empresa (ou patrão) em que esteve ancorado. Trocou uma fase importante da vida, por quem sabe um carro ou uma casa, sem jamais alcançar o que proporcionou de riqueza aos proprietários da empresa. Sabemos de raras exceções, de casos que quando colocados em proporção, beiram o acertar em loterias. É óbvio que neste momento algumas pessoas aceitam qualquer valor de salário, para sobreviver ou manter seus sonhos vivos. Seja em “cargos” irrelevantes ou posições estratégicas, há sim que esteja empenhado em trocar seu tempo pelo dinheiro oferecido. A questão não é essa e sim a sequência que isso vai gerar.

               Como ilustração, um grande amigo lamentava a dificuldade em contratar pessoas para trabalhar em seu pequeno comércio. “Ninguém quer trabalhar”, dizia ele em um misto de revolta, lamentação e repetição de clichês que ouvia em seu convívio social. Para ele, deveria ter fila de pessoas na porta disputando as vagas que ele oferecia. Mas, quando perguntei se o sonho dele é o mesmo que o das pessoas que desejava contratar, houve um silêncio e uma resposta confusa. Depois que falei meu ponto de vista, onde as pessoas não sonhavam em sair de casa todos os dias, ficar dez a doze horas disponíveis às ordens dele, movendo um sistema que alimentaria o sonho dele, engordaria a riqueza dele, sem que elas tivessem qualquer chance de aproveitar os frutos desta riqueza, ficou um pouco mais claro que as pessoas queriam trabalhar, mas, não pelo sonho dele e sim pelos próprios. Inclusive, justificando a lentidão, má vontade, absenteísmo, rotatividade e tudo mais que acontecia na pequena equipe que ele comandava.

               Veremos a extinção do trabalho “formal”? Não. Basta perceber que ainda temos pessoas que aceitam “empregos” em situação análoga a escravidão. Também devemos considerar que o chamado desenvolvimento social não é uniforme, há regiões que parecem viver como outras viviam num passado de trinta anos, há pessoas que ainda não tiveram acesso a tecnologias que outras já estão abandonando por obsoletismo. Carro é um exemplo importante e fácil de visualizar. Enquanto temos pessoas neste momento recarregando as baterias do seu carro, no outro extremo temos pessoas procurando peças para manutenção de motores a Diesel fabricados em 1970, para mover o único meio de transporte da família. Caso queira um extremo maior, neste momento há quem esteja montando um cavalo para deslocar-se de sua casa até um ponto desejado em uma cidade ou povoado. Por estas diferentes realidades, extinção não ocorrerá e por longo tempo ainda teremos as figuras patrão e empregado ativas e presentes no cotidiano. A tolice é não perceber que as exceções não representam relevância no todo.

               Se é bom ou ruim para a humanidade o desinteresse pelo chamado “das 8 às 18” em um local fixo, de segunda a sexta ou sábado, recebendo uns trocados e uma refeição, a tendência de resposta é desfavorável a quem depende de pessoas fazendo isso. Em outras palavras, quem precisa de pessoas “trabalhando” com foco em produtividade e gerar lucro ao “patrão”, certamente terá que repensar na sustentação deste formato. Por que alguém vai trocar seu tempo, suas horas vida, pelo valor em dinheiro oferecido? Sem ilusionismo, sem fantasias, longe da subjetividade e com base na natureza humana, a resposta não é tão doce e agradável a quem nasceu, cresceu ou está vivendo no sistema patrão versus empregado, na posição atualmente “superior”. A felicidade e o que se faz da vida entre o primeiro inspirar e o último expirar, tem significados diferentes para quem tem mais de 50 anos e quem veio depois. Parece normal que o trabalho tenha outro significado também, além de outros formatos possíveis. Tolice pura é tentar fixar âncora no cenário passado e fazer dela a sustentação do futuro. Mudou, mudamos, estamos em outra época, projetando outro cenário do agora e do amanhã. E lamento aos que negam esta realidade, afinal, o hoje e o amanhã estão com ares muito melhores e mais felizes.

               A quem tiver curiosidade, deixo uma amostra de anúncio de emprego que motivou este texto. ALERTA: looooongo, cansativo e engraçado.

Cargo: ASSISTENTE ADMINISTRATIVO I

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Os principais desafios como Assistente Administrativo são:

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  • Cumprir as normas e políticas da empresa e de seus clientes;
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  • Manter postura adequada e aparência apropriada ao atendimento;
  • Prestar atendimento de qualidade ao público interno e externo da Instituição;
  • Garantir que o cadastro dos alunos e professores no sistema esteja correto e atualizado;
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Requisitos e qualificações

Buscamos profissionais com:

  • Desejável experiência em IES e/ou escolas / entidades profissionalizantes.
  • Informática: Excel (Elaboração de Relatórios), Word e PowerPoint.
  • Perfil: Organização, Fluência Verbal, Raciocínio Analítico, Proatividade, Hospitalidade, Iniciativa, Dinamismo, Gostar de Atendimento ao Público, Boa Comunicação/Argumentação, Trabalho em Equipe e Relacionamento Interpessoal, disponibilidade de horário, e flexibilidade.

Informações adicionais

Local de Trabalho: […]

Horário de Jornada: Segunda à Sexta: 12:00 às 21:00 e aos Sábados das 09:00 às 13:00

Necessário ter flexibilidade de horários

Na […] você vai encontrar:

  • Seguro de Vida;
  • Bolsa de Estudos;
  • Assistência Médica Saúde;
  • Assistência Odontológica;
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Modelo de trabalho híbrido para todos os escritórios corporativos da companhia.

Trabalho remoto (home office) estendido para as mães recém-chegadas da licença maternidade por até 3 meses, de acordo com a função desenvolvida.

Acreditamos na excelência do nosso ensino e, por isso, valorizamos os egressos das nossas instituições em nossos processos seletivos.

Mais inclusão: essa vaga também é destinada a pessoas com deficiência.

DIVERSIDADE: A […] valoriza a diversidade e as informações adicionais prestadas nos campos de diversidade são muito importantes para nós, por isso pedimos para que não deixe de responder.

Já pensou em transformar a sociedade por meio da educação? Então, vem pra […]!

*Aqui cortamos um pouco, no anúncio original tinha mais algumas “grosélias”.

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