Disfarça, xinga, sente raiva, se culpa, depois tenta justificar, culpar alguém e por último vai aos poucos silenciando, tentando esquecer. Esta sequência te lembra algo? Uma das inúmeras vantagens que a leitura traz, é não precisar responder a perguntas em voz alta. Não há quem goste de falar em som audível que foi “trouxa”. Quando estimulados ou obrigados, resolvem colocar a criatividade em prática e há quem tente a tal “fazer do limão uma limonada”. Esta é a parte mais comum, tanto que nem precisamos de estatística para saber quantas pessoas lendo a primeira frase deste minitexto, identificaram a sequência e reconheceram que assim acontece e vai se repetir.
A outra parte, incomum, é chata. Principalmente por ser “vendida” como chata, desnecessária para ser feliz, coisa de “gente que não transa”, gente careta ou velha. – Meu medo é que tu tenhas reconhecido esta outra parte já na primeira frase do parágrafo. – Há quem desista de buscá-la antes mesmo de ter alcançado o básico, há quem prefira falar que é bobagem e argumentar com perguntas estúpidas como: “diga uma pessoa que é feliz assim?”. Claro, estou direcionando para a sabedoria. Devo esclarecer que não falo de monges tibetanos ou gurus e já faço uma pergunta para perturbar o ambiente: pessoas sabias, nunca são “trouxas”?
Paradoxos. Saber lidar com eles será o auge da antitolice e não se tem notícia de alguém que tenha alcançado plenamente este nível. Longe de incentivar com esta frase uma inércia, qualquer avanço, minúsculo que seja, é muito melhor que se manter “trouxa”. Ter tempo para adquirir sabedoria não combina com o algoritmo e a lógica que programou o ser humano para a nossa época. Milhares ou até mesmo milhões de “rotinas” estão atuando automaticamente para induzir a uma saída, uma resposta a “se …, enquanto…, faça …”. Sim, um sistema qualquer que seja, tem entradas, testes lógicos, loop, saídas ou respostas. Deixar de ser a pessoa “trouxa” que fica na rotina do sistema, depende de uma percepção que máquinas não tem e dizem os sábios, nunca terão. Logo, seres humanos quem não se consideram máquinas, percebem que estão na rotina de um sistema e rompem o ciclo, saindo dele. Alguns sim, muitos não, outros talvez.
Sabemos apontar o dedo na cara dos outros, isso não nos traz nenhum acréscimo de sabedoria, sendo apenas o uso conveniente do verbo saber para iniciar uma frase. Perceba como a sabedoria, em contraponto a ser “trouxa”, vai ser vista como chata. Ela depende de ações de dentro para fora, significa sair do comum por iniciativa própria. Fácil “vender” como algo chato, difícil. Por isso minha desconfiança sobre o motivo do aspecto silencioso dos sábios de hoje em dia. O tal sistema só reconhece pessoas barulhentas, se alimenta de ruídos gerados pela desejada rotina (“se…, enquanto…, faça…”) de ter muitos “trouxas”. Devemos todos então ser chatos, quietos, sem rir, sem cantar, sem se mexer? Acredito que não preciso responder a uma tolice como esta. A forma silenciosa de se manifestar dos sábios, inclui inúmeras gargalhadas, músicas, danças, animadas atividades esportivas e coletivas. Paradoxal?
Até quem hoje se acha sábio, pode estar sendo um verdadeiro “trouxa”. Perceba no gestual dos ditos intelectuais, na “liturgia” dos agentes públicos, nas pessoas chamadas de políticos profissionais. Perceba na hipocrisia dos que se autodenominam religiosos, pessoas do bem. Perceba o quanto há de barulho e procure onde está a sabedoria. Mas, cuidado, não confunda sabedoria com malandragem, safadeza. Enganar os outros não é ser sábio, é estar a um passo de ser defenestrado. Lembre-se que uma pessoa que percebeu ter sido “trouxa”, está também a um passo de se tornar sábia. Desejo que tu tenhas a percepção, depois a reação e que por iniciativa própria, busque e use a sabedoria. Que tu sejas uma pessoa sábia, lidando bem com os paradoxos, silenciosamente no barulho do cotidiano. Já estamos com excesso de malandragem e “trouxas”.
