Uma proposta que mistura seriedade, ironia e experimento social. De forma bem direta, o mundo com 20 anos sem o uso de qualquer tipo de arma, seja branca, de fogo, química, enfim, nenhuma arma. Caso alguém não consiga resolver seus conflitos, tem o direito de tentar “no tapa”. Não será um retrocesso, uma volta aos tempos dos gladiadores, será um tira-teima, uma experiência gerando muito material para estudos. Sabe aquele ladrão “macho” que com uma faca rouba pessoas aleatoriamente? Seria ele tão macho e poderoso assim, sem a arma? E aquela decisão de enviar 10 mil pessoas rumo a um campo de batalha, quem mandou teria este poder todo sem as armas?
Implícita na sequência de perguntas está uma de maior complexidade: qual mundo teríamos durante estes 20 anos sem armas? Entendo que os chamados estrategistas militares, sabendo que há um prazo determinado, deixariam exposta a imensa covardia natural deles e não incitariam, nem responderiam, qualquer demanda que pudesse colocá-los na obrigação de combater, ao invés de mandar alguém fazer isso “em nome da causa” ou “da pátria”. Em uma visão otimista, essa atitude dos grandes covardes, tentando sabotar o experimento, seria o famoso tiro no pé, afinal a safadeza poderia ser facilmente percebida, por aqueles que hoje são obrigados a atuar nas lutas criadas e ordenadas por alguém que sem armas, fica no máximo ao mesmo nível, logo, sem poder algum. Este cenário, teria grande impacto em países, grupos criminosos armados e até nos indivíduos iludidos com a tolice de ter uma arma será útil para se defender.
Algumas pessoas ao ler este texto, antes de chegar a esta parte, estão mentalmente repetindo argumentos contrários que não são de própria criação. Argumentos que na verdade são repetições de algo absorvido em discursos, filmes, opiniões, tudo que lhes foi vendido como verdade absoluta. Tenho tendência a sentir dó e vontade de menos tentar fazer com que usem a mais poderosa arma, a mais avançada máquina existente e até o momento insuperável: o cérebro humano. Até este momento, somente seres humanos são capazes de utilizar a mente de forma projetada e relativística (vide Miguel Nicolelis). Aqueles que superam as tolices usando este valioso presente que receberam, são capazes de entender que a proposta é irônica a partir da condição de não realizável, é séria no ponto de vista de reflexão e experimento social quando se mostra tentadora de ser testada. Que mundo teríamos durante e após os 20 anos sem armas?
Não raro se encontra quem afirma que seres humanos estão em conflito desde sempre. Raro sim é encontrar alguém que afirme que qualquer ser humano que sustenta seu poder com uma arma diferente do cérebro, seja na verdade a encarnação da covardia. Por exemplo, somente a covardia transforma um meio de transporte revolucionário como os aviões, em uma arma. Somente covardes utilizam fantásticas descobertas da Física, para criar armas. Outro exemplo da covardia, mesmo que repetido, é quem transforma capacidade de liderança, em ordem para usar armas em lutas idiotas. Acredito que tenho o direito de sonhar com os hoje poderosos donos de armas, amanhã sendo obrigados a socializar sem elas. Peço perdão por estar rindo de algumas cenas que posso projetar em meus pensamentos. Como seria engraçado ver “panças” condecoradas por equivalentes aos vermes, tentando conquistar algo “no tapa”. Mais engraçado ainda, seria uma cena em que estas pessoas que se consideram poderosas, tendo que conversar, trabalhar, contribuir de alguma forma, para ter algo que sem acesso, simplesmente não sobreviveriam: água e comida.
Nossas tolices, estão levando seres humanos a distorcer o que é a vida, o valor da paz, o significado de harmonia. Esta afirmação com ares de diagnóstico, aparece literalmente ou implícita em centenas de milhares de textos, falas, debates, etc. Nenhuma proposta concreta, nenhuma forma realista, nenhuma ação, nenhuma nova lógica executável, nada é apresentado para frear o que temos e mudar o rumo. Nada é aceito e inexiste sinais de conversa séria sobre o assunto. Apenas diagnósticos, somados a inúmeros registros da barbárie normalizada e da regressão do ser humano a algo visto pelo avesso, como se atualmente houvesse progresso, evolução, empoderamento. O que conseguimos gerar são cenários de desumanização descritos e narrados como conquistas. Sem armas, chega a ser fácil demais a percepção de onde estaríamos, tão fácil que muitos recusam aceitar. Neste momento, até a acusação de tolice está invertida. Quem deveria estar praticando a antitolice, está acusando quem o faz de fantasiar o mundo real.
