Com Todo Respeito.

               Garanto o meu respeito, negando a minha participação e companhia. É possível sim a convivência de pessoas diferentes a partir de um simples entendimento, onde a liberdade será o ponto principal. Sem polêmicas, sem conflitos, uma verdadeira antitolice, que começa com a percepção de que estamos tratando de forma equivocada, as mais diversas situações entre grupos formados por indivíduos presenteados (supostamente) com a capacidade de raciocinar, a raça humana.

               A pergunta que sempre tenho vontade de fazer, quando ouço ou estou diante de uma das partes de um conflito é: “o que está te incomodando?”. As respostas a esta pergunta trazem níveis diferentes de complexidade, isto é um fato, mas, também escancaram uma imensidão de tolices. Alguns conflitos realmente são mais complexos, não se tem solução em uma breve conversa e não há fórmula já utilizada em anteriores que possa servir. Meu foco neste texto será conflitos gerados por tolices, aqueles em que os envolvidos supervalorizam pontos de atrito, deixando de lado os caminhos para simplesmente extinguir a suposta rusga. Por exemplo: em um ponto de ônibus, uma senhora com mais primaveras comemoradas, tem muito próximo dela uma pessoa bem jovem, com cabelos tingidos de verde e tatuagens aparentes no pescoço. A reação da senhora é reprovar a aparência da pessoa jovem e o incômodo acaba provocando um conflito. Ela não se contém e fala: “que absurdo, que coisa mais idiota, imagine o desgosto da mãe dessa pessoa, jovem procure uma igreja…”.

               No exemplo fictício com base em milhares de eventos reais, aplicando a pergunta “o que está incomodando a senhora?”, é fácil prever que será algo como: absurdo pintar o cabelo de verde, parece um papagaio, tenho dó da mãe de uma pessoa assim, as tatuagens vão virar câncer todo mundo já sabe disso, se quer chamar a atenção pendure uma melancia na cabeça que é melhor, etc. Apertando um pouco mais o raciocínio da pessoa incomodada, chegamos a ação de antitolice, através da lógica onde se a pessoa jovem quer fazer isso, ela tem direito e se a senhora não gostou, então pare de olhar e depois siga seu caminho. Também é preciso levar ao cérebro da senhora, a fixação do seguinte pensamento: não será necessário fazer igual, o cabelo da pessoa está verde, o teu seguirá da cor de desejares e não será obrigatório a todas as senhoras do mundo fazer tatuagens no pescoço.

               Com a certeza de que não será necessário, nem obrigatório, repetir no teu comportamento o que está te incomodando no comportamento do outro, o conflito começa a ser dissipado. Obviamente que começa a existir o respeito, que é a consequência do direito que tem o outro ser humano no teu convívio. Não menos óbvio, junto ao direito aparece o dever. Sim, os dois lados de um conflito precisam entender direito e dever com a mesma relevância. Em todos os casos cumprindo o dever de respeitar, recebemos o direito de não participar, não aderir e não fazer companhia. Como assim? Vamos ao exemplo da senhora incomodada com a pessoa jovem, ela tem todo o direito de não pintar os cabelos de verde – ou seja, não vai aderir – também terá o direito de optar por se afastar, não seguir em companhia. Estará respeitando o jovem e respeitando a liberdade de escolha dele, por consequência, ela tem o direito de ter escolhas diferentes. O jovem segue a sua vida e a senhora também. Porém, ao tentar confrontar a liberdade do jovem, ao tentar decidir por ele o que deve ser feito, perde completamente os próprios direitos. Afinal, por equivalência, se ela pode entrar em atrito com o jovem, também poderá um grupo de pessoas entrar em atrito com ela, por ter cabelos brancos, perfume adocicado, bolsa fora de moda, usar saia longa, etc.

               Para facilitar a convivência pacífica, o entendimento de respeitar pode ser entendido até por clichês como: ema ema, cada um com seu problema. Em outras palavras, quer fazer faça. Mas, quem faz tem a obrigação de aceitar a não aderência dos outros, o não comprar da ideia, também a rejeição e o afastamento, seja imediato ou não. Completo este parágrafo com mais exemplos, como o gosto musical. Se tua preferência é por forró, não me incomoda, mas, tenho o direito de não ficar ao teu lado ouvindo forró ou de pedir o uso de um fone de ouvido. Outro exemplo, se o teu sentimento é de raiva de quem não votou no mesmo candidato, vou respeitar, mas, não vou sentir raiva também e não vou te acompanhar no vômito de palavras contra quem te incomoda. Se a tua veste preferida é terno e gravata, eu respeito, mas, vou continuar vestido de bermuda e camiseta. Tua opção é por não comer carne por seguir uma filosofia de vida, terás todo o meu respeito, mas, vou comer o meu churrasco e ouvindo ou não os teus argumentos, tenho o direito de continuar assando carne. Tua visão de mundo é aquela em que ter é melhor do que ser, tenha o meu respeito, mas, não estarei a bordo do mesmo barco que te leva a navegar.

               Após entender direitos e deveres, respeitar é muito fácil, não dói e não consome energia. Quem optar pela raiva, pelo conflito ou tentativa de impor mudança ao outro, vai gastar energia boa em algo que não levará a resultado nenhum. Como os mais antigos falavam, vai pagar caro por algo que não vale nada. É uma tolice obrigar o outro ser humano a ser igual a ti. Por outro lado, é inquestionável o direito a ser, fazer ou pensar diferente de todos. Com uma única exceção: não cometer crime, não estar fora da lei expressa e vigente. Lembrando aqui que a lei existindo não é permitido alegar desconhecimento dela para justificar a transgressão. Por exemplo, andar pelado na rua, é algo expressamente não permitido em lei, não existe questão de respeito neste caso e quem optar por ficar nu em público, terá que responder pelo ato. Vestir a cor lilás, não é contra qualquer lei, merece respeito quem optar por ela, estando ciente que aqueles que desejarem outra cor, estão no direito de não usar. Tolice é partir para o conflito com quem está de lilás, dá muito mais trabalho tentar impor outra cor do que respeitar a escolha. Aos que superarem esta barreira, percebendo quanta tolice estão alimentando em seus conflitos, deixo minha homenagem dedicando todo o meu respeito.

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