Reformas

               Quando uma Kombi antiga é reformada, fica uma beleza, mas, continua sendo uma Kombi antiga. Esta frase não tem autor definido, isso pouco importa e não é uma crítica ou depreciação a van (guerreira) ou a marca VW. É apenas uma forma de convidar ao raciocínio e melhor entendimento, sobre reformas como solução de problemas históricos, ou é uma imensa tolice. Decisões de impacto pessoal, cada um reflete e assume os valores envolvidos, por consequência, o mérito ou culpa pelo resultado. Mas, quando a decisão por reformar algo envolve a coletividade, entra em rota de colisão com os interesses e os resultados desejados.

               A proposta é refletir quanto ao que permanece em uma estrutura, mesmo depois que passe por reformas. Desconsiderando o apelo das paixões e relações sentimentais, devemos racionalmente avaliar, se o que será gasto em reformas garante resultados compensatórios. Aproveitando o exemplo exposto na frase inicial para entendimento da base de pensamento, mesmo uma Kombi antiga reluzindo e com uma carga extra de capricho nos detalhes, ela continuará com chassis de Kombi, volante, alavanca de câmbio, o próprio câmbio e o tudo mais que existe em uma Kombi. Poderá ter gasto muito tempo, também valores relevantes em dinheiro e mesmo assim, continuará com detalhes de Kombi.

               “Precisamos acelerar as reformas…”. Esta é uma frase repetida com frequência em falas de governantes e políticos. Aqui entra uma parte relevante da reflexão, onde perguntas fortalecem ações de antitolices. Reformar algo que tem estrutura inadequada, vale a pena? A quem interessa a reforma? Qual a mudança real que a reforma vai proporcionar? E talvez as duas mais certeiras: 1- Quanto custa (de verdade) para fazer novo, do zero, sem reaproveitar nada?  e 2- O que impede de fazer novo ao invés de reformar?

               Esperar respostas verdadeiras de governantes e políticos é uma tolice que chega a dar dó de quem a tem. A esperança terá alcance nulo, por estar vinculada a instituições em que uma reforma não apaga a estrutura apodrecida. Somente com um ponto de ruptura e nova construção podemos esperar algo melhor destes agentes. Tudo que estiver gerido ou sob domínio deles, não vai melhorar com reformas. Porém, com habilidade verbal e persuasão, somados a poder financeiro e muita experiência em esconder as verdadeiras intenções, eles ainda conseguem convencer milhões de cérebros que uma reforma é urgente e resolve os problemas. Obviamente que é uma tolice, basta lembrar do exemplo da Kombi.

               Caso não seja tão fácil visualizar o citado, convido a pensar na reforma de uma casa, onde o desejo é mudar as paredes, criar novos ambientes e resolver problemas como espaço, conforto e até colocar mobiliário mais moderno. Começa a obra, muito barulho, poeira, imprevistos e o aviso que vai precisar de mais dinheiro. Quando a paciência vai acabando, ainda tem a frase do antigo comercial de tubos e conexões: “ah patrão, vai ficar 10!”. Depois de muito tumulto e certamente com atrasos, chega o dia em que a obra é concluída. A casa está agora diferente do que estava antes da reforma, tem cara de tudo novo e uma boa sensação de que valeu a pena os perrengues e gastos. Não demora muito e em algum momento, será percebido que os vizinhos continuam lá, a rua é a mesma e o cheiro do lugar também. Falando em cheiro, não foi refeito todo o encanamento e logo nos primeiros dias, será ouvido em algum lugar algo como: “uma casa nova está custando … dinheiros”. Foi gasto mais que o dobro ou mesmo um valor muito próximo do que para fazer uma casa nova. E o encanamento continuou com os velhos problemas. Mas, se está passando na tua cabeça que reformar o encanamento também poderia ter entrado na estória, convido a relembrar as perguntas 1 e 2 no parágrafo deste texto que começa com: “Precisamos acelerar as reformas”.

               Tentar reformar aproveitando a base do que nitidamente não deu certo, reflete imensa tolice. Maquiagens e cirurgias plásticas, certamente melhoram a aparência, mas, não precisa muito conhecimento para entender que o DNA da pessoa continuará mostrando que tudo tem seu tempo. Por vaidade, autoestima ou simplesmente embelezamento, maquiar e fazer procedimento estético são ações aceitáveis e válidas. Para tentar enganar alguém, não servem. O caminho para resolver problemas estruturais e urgentes é construir em nova base, com o conceito renovado e atualizado, sabendo que vai durar até que se perceba inadequado, ultrapassado e seja necessário fazer tudo novo outra vez.

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