Mentes Sequestradas

               Diante do impossível controle completo da mente humana sem estar portando o cérebro que a alimenta, uma solução encontrada por pessoas perversas, foi então sequestrar uma parte, tomar posse de uma fração da mente alheia e nunca mais sair dali. É um sequestro não declarado, sem pedido de resgate e tão bem executado que não é necessário ter qualquer preocupação em perder o espaço dominado. Completando a maldade, quem sequestra sequer fica controlando a porta de saída e em alguns casos terceiriza a alimentação do que fortalece o domínio da área invadida. Uma vez realizado o domínio, a transformação de um cérebro sadio em um autobloqueado, deixa quem está observando a situação da pessoa a sua frente em total incredulidade, tanto pela facilidade como aquela parte foi conquistada, quanto com o aceite em permanecer dominado.

               Quem tentar estudar o assunto pode encontrar possíveis padrões na forma como foi realizado. Poderá inclusive chamar de técnicas ou práticas repetidas, ao observar a forma utilizada para sequestrar as mentes em questão. Porém, não vai conseguir responder como são mantidas as condições de cárcere, mesmo com todas as possibilidades de libertação. É algo realmente incrível e nitidamente também diversificado em objetivos. Pode ser para uma religião, um produto de consumo, uma ação em grupo, significado de uma palavra, entendimento de um conceito, torcida em um esporte, etc. O pior destes objetivos é o que leva mentes até então brilhantes a uma inacreditável prática da tolice na tal política.

               Em todos os casos, começa com elementos que mesmo já conhecidos e amplamente divulgados, provocam o efeito de sedução, prendem a atenção com muita força. São bobagens impregnadas em palavras e gestos, parecendo inacreditável que ainda funcione. Nos casos em que o sequestro ocorre em massa, buscando tomar posse de grande quantidade de mentes ao mesmo tempo, o nível de planejamento aumenta e o investimento na arquitetura do sequestro é proporcionalmente elevado. Quando é para apenas tirar um pouco de dinheiro, vender um produto ou serviço de valor menor, entra um fator que potencializa a quantidade de vítimas: qualquer pessoa pode realizar. Funciona bem e tem ares de inofensivo, pode ser chamado até com denominação contendo palavra em outro idioma, como marketing multinível, na maioria nem estará fora da lei.

              Quantas vezes nos últimos dias, quem está lendo este texto percebeu que uma outra pessoa foi vítima de um destes sequestros da mente e fez a pergunta clichê: “como é possível a pessoa acreditar nisso?”. Posso imaginar a tua resposta. Também a frustração em saber que a porta de saída é tão óbvia, tão acessível e mesmo assim, a mente sequestrada sequer cogita libertar-se, podendo inclusive tentar te convencer em aderir a tolice em que ela está, com argumentos que não fazem o menor sentido.

              Uma vez sequestrada a mente, qualquer coisa que se tente fazer para libertá-la, será em vão. Exagero? Nos casos bem executados não é. A pessoa não consegue sair do bloqueio e somente a natureza encerra o ato bem realizado lá no início. Ato bem realizado no sentido do sucesso de quem executou, pois no sentido de humanidade não tem nada do bem. Que falta faz a existência de um flash como aquele utilizado no filme MIB (Men In Black). Seria fantástico poder ajudar as mentes sequestradas na volta ao pleno raciocínio e recuperação da parte invadida por tolices, aplicando um choque de realidade tão intenso quanto o flash que supostamente apagava somente a memória recente. Ao perceber que uma pessoa querida teve a mente captada, aplicaríamos o flash e ela voltaria a realidade. Um sonho! Enquanto isso não for possível de ser realizado, desejo a quem está lendo que tenha força mental para resistir aos perigos de uma sedutora ideia que está logo ali, falada, publicada, debatida ou até feita sob medida para as tuas fragilidades.

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