ALERTA: Texto looooongo, com mais de duas mil palavras e impróprio para leitura vertical.
Encontrar em qual momento foi decidido chamar safadeza de inflação, poderia ajudar a explicar o quanto isso faz mal para a vida de todas as pessoas. Todas sem exceções, até mesmo para as que pensam ter algum ganho no final das contas. Observe a quantidade de estudos, artigos, textos, vídeos, falas e recursos empregados a serviço da sustentação “científica” e construção da aura de complexidade, ao que explicado de forma honesta, fica constrangedor.
Os explicadores do momento atual, merecem nosso reconhecimento, inclusive monetário, por transformar pontas soltas em correlações, subjetividades em regras e usar expressões como “Isso não foi estudado porque não acontecia antes de tal período, mas, tem fundamento”. No mínimo o esforço destas pessoas tem que ser reconhecido. Vamos fechar os olhos e esquecer o elevado grau de tolice em cada nova explicação apresentada, quando o previsto não se realiza e o realizado não foi previsto. Vamos fazer cara de quem não percebeu nada de anormal, apenas por reconhecer que há um esforço e para não gerar tumulto.
É necessário um esforço também, para aceitar que a tal inflação virou assunto complexo, apesar da simplicidade que é perceber seus efeitos no cotidiano. Simples como o já percebido limite, este que incomoda a pessoa comum e a pessoa que de tanto aceitar explicações complexas, acredita que tem percepção melhor que a dos outros. Matemática simples, é algo irritante aos semideuses explicadores da mega, macro, micro, mini e em breve quântica economia (ironia). Usar este método simples de um mais um, sem inventar complexidade, iguala os semideuses aos semianalfabetos. Insuportável.
Sei que para alguns só a palavra matemática já é irritante, por isso a necessidade de esforço para entender onde vamos chegar. Um mais um, sem pressa, mentalize qualquer coisa que saia do zero e chegue a mil. Pode ser chato, mas, ainda é possível ter uma noção clara de onde saiu (o zero) até onde chegou (o mil). Agora, continue até chegar em trilhão. Complicou? Imagine pensar que não parou no trilhão, nem vai parar.
Safadeza é começar de um mais um, criar complexidade para justificar o óbvio e chegar no trilhão, sabendo que a próxima casa da soma, a maioria das pessoas afetadas sequer sabe qual é. No quatrilhão, seguindo a sequência até chegar em noningentésimo nonagésimo nono, somamos mais um rindo da própria desgraça. Talvez assistindo a um semideus, usando novos termos e novas abstrações, para aplicar uma das faces do entretenimento, o ilusionismo.
Feito este início, a proposição que apresento é em essência desconfortável, por ser uma espécie ação que provoca entropia em um sistema já caótico, parece redundância e ao mesmo tempo é a melhor forma visualizar. A desordem no nosso agora está em harmonia com o que é proposto e por isso, alterar a alimentação vai provocar também alterações relevantes na percepção do que é movimentado, aumentando o caos, mas, com uma diferença importante: melhora muito o resultado. Parece que está tudo bem, mesmo que todo bagunçado, aí entra um novo agente (fator) e bagunça a bagunça, vai ordenando as coisas e oferecendo como saída, respostas diferentes das rotineiras e atuais.
Soa mal a palavra desinflacionar. A pronúncia não é amigável para mídias faladas e no acelerado modo explicador dos semideuses de problemas complexos, quebra o ritmo. Imagine o quanto potencializa a repulsa, quando a proposição não permite realizar de forma gradual, gradativa ou qualquer das palavras atuais que os semideuses preferem. Obvio que para eles não é apenas uma tolice da linguística, é uma forma de dar tempo para que o conjunto de safados do momento atual possa se adaptar a um novo cenário. Toda vez que é sugerido que uma correção de caos seja feita gradativamente, fracionada ou algo parecido, o que está sendo protegido é o tempo de reação dos que pagam os semideuses. Além deste detalhe, tem o tempo necessário para criar uma estorinha em caso de “dar m3rd4”.
Sem reinventar a roda, trazer números como 1.000.000.000.000.000,00 para algo mais “palpável” e que se possa visualizar. Para falar e entender com clareza, trazer o valor de tudo a uma soma viável ao processamento com a capacidade do cérebro humano, não é assim uma super novidade. Converter o valor das coisas em uma nova referência de dinheiro, talvez seja tão antigo quanto a percepção de que a safadeza foi longe demais. Talvez também tenha sido utilizado como artifício para “melhorar” o valor de um dinheiro em comparação ao outro. De forma simplista, essa valorização de um em comparação ao outro, pode ser equivalente a algo como uma mente infantilizada soltando um “eu tenho, você não tem nhénhénhéé”. Como reação, as outras mentes na cena se unem e desvalorizam aquilo, falando “agora o que tem valor é este outro aqui, o teu é desprezível”.
Exemplos da simplificação não faltam. Aqui mesmo, no país de onde escrevo, em sua breve história (menos que um milênio), a conversão de valor de dinheiro é “normal”. Para melhor entendimento desta afirmação, perceba que uma unidade do dinheiro de hoje (em 2024) é igual a 2.750.000.000.000.000,00 do dinheiro na época da invasão formal que gerou o país (em 1500). Se já parece espantoso, considere que aquele número impronunciável tem como base a soma de mil unidades do dinheiro da época, o Réis.
Há uma diferença com o passado não tão distante. Por quê? O atual, provocado pela safadeza, não é mais exceção, coisas de um país ou povoado irrelevante. No momento, estamos com essa bizarrice em todos os locais onde há dinheiro circulando, ou seja, all around world em linguagem que os semideuses adoram.
Quando olhamos para valores falados na mídia ou que estão em nosso cotidiano mais comum, não há como aceitar que sejam considerados “fruto das relações econômicas entre os diversos mercados, seus operadores e consumidores, ao longo do tempo, conforme estudos realizados e fatos observados empiricamente, a posteriori convertidos em comprovações científicas inegáveis de questionamento inadequado ou leviano” (contém ironia). A referência ou exemplo pode ser escolhido a critério de cada pessoa que esteja lendo este texto. Para não deixar vazio, peço que observe os seguintes números:
- Orçamento anual dos EUA para gastos militares em 2024: US$ 886.000.000,00.
- Soma em 2 anos (2022 / 2023): US$ 1.765.900.000,00.
- Preço de um caminhão Scania em 2024: R$ 1.166.956,00.
- Custo do metro quadrado de um imóvel em Tokyo em 2023: Ienes 1.620.000,00. Valor de uma casa 70m2: Ienes 115.500.000,00.
- Receita anual da Universidade de Newcastle, Inglaterra ano letivo 2022/2023: libras 592.400.000,00
Para chegar nestes números bizarros, a história começou a contar do zero e o primeiro número somado foi simplesmente um.
Organizar a bagunça, estabelecendo uma conversão provisória, reduzindo a soma “pornográfica” dos valores que coloquei como exemplos, poderia ser algo interessante e talvez ajudasse um pouco a trazer os valores para um nível em que humanos possam perceber, falar, calcular, entender ou até mesmo questionar. Seria uma boa fonte de alimentação para novos estudos, textos, vídeos, notícias e tudo mais que transforma pessoas em semideuses do conhecimento (ironia). Pouco tempo histórico depois das conversões de moeda – solução convencional – e alguém escreverá frases iguais ou similares a que escrevi no início deste texto.
Sem mudar os hábitos, não é possível sair da obesidade mórbida. A mesma lógica vale para desinflacionar o valor das coisas. Pensar e agir de forma diferente da que nos trouxe ao caos, ter novos hábitos e eliminar a infantilização que precifica o que é meu em duas vezes o valor do que é teu, porque é meu. São muitas as situações de conflito entre o que fazemos hoje e fluxo natural, orgânico, que era esperado na convivência entre humanos. A conversinha de que quando tem pouco é normal cobrar mais caro, inflacionar o valor, é um destes conflitos. Parece natural, a linha de pensamento que leva a resposta instantânea do tipo “é óbvio” ou “lógico que tem que ser assim”. Não! Não é. Está longe também de ser o único motivo que justifica uma “mercadoria” ou “serviço” ter o seu valor inflacionado. Insisto, há safadeza.
A construção do pensamento automatizado, anulou a lógica natural. Sendo algo que vai ser escasso, nossa natureza aponta para dividir ao máximo e ao acabar, procurar uma alternativa ou simplesmente entender que acabou. A comida é um exemplo de fácil compreensão, quando humanos encontravam uma árvore com frutas, o grupo seria alimentado dela. Ao perceber a aproximação da escassez, o fim dos frutos, o grupo aumentava a divisão, de forma simples mesmo, ao invés de comer uma fruta inteira, dava-se umas mordidas e passava ao próximo do grupo. Quando percebíamos o fim dos frutos daquela árvore, era necessário buscar outra fonte de alimentação e assim fazíamos. Havia brigas, corrupção e favorecimentos? Responder prontamente com “óbvio, humanos são assim”, é tão subjetivo quanto as criativas respostas dos semideuses explicadores da inflação. Quem estava lá para ver isso acontecendo?
É uma tolice acreditar que as coisas que precisamos para viver e nos relacionar, obrigatoriamente devem seguir a lógica do “eu tenho, você não tem lálálá lá”. Achar que quem não tem deve “pagar” o que quem tem decide como valor, é tão desumano que no final das contas, cheira mal.
A pessoa que aprendeu a inflacionar tudo, seja ao fim do mês, fim do ano, seja lá em qual for a escolha de tempo em que fez um “balanço”, acredita estar virtuosamente protegendo seus bens e prosperando. Quando a realidade bater em sua mente, será um contraste entre o que tem de certezas e as respostas naturais ao mal que causou a incontáveis da mesma classe social. Não é uma forma de praguejar, nem mesmo de tentar adivinhar o futuro ou filosofar. É o fluxo natural da vida humana, mesmo que não haja tempo suficiente para que todos alcancem o entendimento do que foi ou está sendo uma tolice. A tal inflação é a forma como automaticamente e cheios de burrice, alteramos o valor das coisas a ponto de chegarmos a uma soma que não sabemos pronunciar, não conseguimos perceber de forma natural o quanto é. Todos sabem que começou de um mais um. Sabem o efeito imediato ou futuro disso?
Quem está hoje sentado em um veículo, por exemplo um caminhão, sabe que o valor dele está muito acima do valor de uma casa, um imóvel. Não sabe como isso aconteceu e como explicar a insana conta em que, de um mais um, fez o valor de um caminhão ser maior do que o valor do lar, o abrigo humano. Apenas e automaticamente, falando que é natural ou se adaptando ao que foi imposto como verdade, explicado por semideuses, segue o fluxo, segue movimentando a tolice que foi construída.
É impossível saber quem começou, quem foi o primeiro ou quem são os primeiros construtores desta prática onde o um passou a valer dois ou mais, porque é assim que tem que ser. Assim também não é viável e possível continuar a história que estamos construindo. A mais simples matemática, aquela de um mais um que todos compreendem e conseguem visualizar, nos coloca em conflito com os semideuses explicadores. O alimento para a atividade “normal” destes é simplesmente veneno para as pessoas naturalmente humanas.
E se a pessoa mais rica do mundo, for convencida a simplesmente relacionar o que possui e dividir o valor de cada coisa por um bilhão. Aos bens palpáveis em que a divisão resultar valor menor que um, atribuir exatamente este valor a coisa. Esta pessoa será ainda rica se o que vale um agora, enquanto existir, continuar valendo um? Será possível chegar a números impronunciáveis em tempos de mais pessoas com acesso a informações, mais formas de registrar e divulgar quem está usando a safadeza para inflar o valor do que possui? Será tão passiva a forma de assistir ao inflado poder conquistado com a safadeza?
Desinflacionar. Quem começa?
EXTRA: Sim, na simulação proposta, a pessoa mais rica, continuará muito rica, porém, com menos poder. Continuará existindo ricos e não ricos, mas, o valor das coisas deixará de ser ditado pela safadeza. Um vale um e continuará valendo um, até o fim. Ao acumular dez, cada coisa permanece valendo um. Se for roubado, se a coisa deixar de existir, se a pessoa morrer, se há escassez da coisa ou se é a última, se dá trabalho para fazer, todos os “se” que hoje inflacionam, perdem o sentido quando se mantém um valendo um. A vida seguirá normalmente, feliz e em harmonia com a natureza humana, racional.
